Um caso de maus tratos a um cachorro, que foi envenenado, agredido e morto, por um segurança de um estabelecimento de uma rede nacional de hipermercados, no interior de São Paulo, causou comoção e revolta em todo o país, depois que um vídeo viralizou em redes sociais. Novamente, veio à tona as discussões sobre medidas de controle da população de animais de rua, sobre a criminalização dos autores de atos de violência, e adoção. Em Campos, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) vem realizando procedimentos de castração e campanhas para encontrar novos lares para cães e gatos que vivem nas ruas, que são abandonados no órgão ou que são resgatados por grupos, como os Protetores Amigos de Todos os Animais (Pata). Além disso, os animais que vivem nas ruas contam com pessoas, como o empresário Pedro Ongaratto, que tem um restaurante no Shopping Estrada. Ele cuida de uma verdadeira matilha de cerca de 20 cães, que recebem alimentação, cuidados veterinários e muito carinho.
— Eu não admito que ninguém maltrate um animal na minha frente. Animal para mim é tudo, qualquer animal. Nem cobra eu gosto que mate. Porque se uma cobra estiver em algum lugar é só você deixar que ela passa e vai embora. Tudo tem um motivo, uma utilidade e todo animal tem sua importância — disse o empresário, que tem empreendimento no local há mais de 20 anos.
Sob a guarda de Pedro, animais que chegaram a ele doentes e maltratados são bem cuidados e vivem em harmonia com outros que vão chegando para aumentar o grupo. Pelo menos dois deles fizeram tratamento oncológico. Todos fazem duas refeições ao dia e têm caminhas feitas de pneus que, no inverno, recebem um colchão para garantir o calor. Além disso, Pedro construiu um canil, para atender melhor aos animais. “Aqui tem muita fruta e muitas crianças vêm aqui para pegar. Alguns vêm com cachorro, que quando chegam aqui, se enturmam e não querem mais ir embora”, disse o empresário, que acredita que a população de animais de rua aumenta porque muitas famílias adquirem um bicho de estimação sem ter condições para criá-lo.
O número de animais de rua em Campos é de cerca de 60 mil, segundo o projeto Protetores Amigos de Todos os Animais (Pata). O dado é baseado em uma estimativa do IBGE que estabelece que a proporção é de 5% do total da população. “A castração é o único método eficaz para o controle populacional e assim iremos diminuir a incidência de maus tratos e abandono” afirma Marcelle Almeida, coordenadora do Pata.
Atualmente, o CCZ disponibiliza castrações através das ações do projeto “CCZ Convida”. No total, 989 animais entre cães e gatos foram castrados de janeiro a novembro de 2018. A Pata também realiza campanha para financiamento deste tipo de procedimento. Um doador pode entrar em contato pelas redes sociais.
Maus tratos e abandono ainda são comuns
A revolta pelo crime cometido em São Paulo nem sempre se transforma em ação para a proteção de animais de rua. Essa é a crítica de uma comerciante do Shopping Estrada, que preferiu não se identificar.
— Fico sensibilizada, mas sinto que as pessoas falam sobre o assunto, postam sobre o assunto, mas fazem muito pouco para ajudar. Aqui no meu estabelecimento, tem gente que fala que não entra porque junta muitos cachorros na frente. Minha família sempre colocou comida e água para eles e eu vou continuar. Se não quiserem vir aqui, não tem problema. Mas se quiserem, vão ter que aceitar que os animais fazem parte da paisagem — contou.
Segundo a Veterinária do CCZ, Francimara Araújo, o abandono também é uma atitude comum. “Às vezes chegamos de manhã para trabalhar e encontramos animais que foram jogados por cima do muro”, disse ela, que contou ainda que no último dia 1º, na primeira edição do “CCZ Visita”, na Praça 1º de Maio, quando a equipe encerrou os trabalhos e retornou ao carro do órgão, encontrou 9 filhotes de gato, dentro de uma caixa.
Denúncia — A população pode realizar denúncias de maus tratos através do telefone (22) 98126-5234. O órgão atua em conjunto com representatividades de outras esferas, como órgãos jurídicos ou Ministério Público (MP), por exemplo, em casos de denúncias de maus tratos. A lei federal de crimes ambientais nº 9605 de 16/02 de 1998 reforçou o decreto de 1934 e especificou várias violações e penalidades para quem pratica crimes contra os animais.
Várias instituições realizam campanhas para incentivar a adoção. Hoje, só o CCZ conta com 58 animais para adoção, sendo 33 cães adultos e 8 filhotes e 12 gatos adultos e 5 filhotes, a maior parte de raça indefinida. A maioria chega às instituições após ser recolhida nas ruas, serem resgatados, após denúncia de maus tratos, ou mesmo serem abandonadas na porta de protetores e ativistas.
Para adotar um animal, é preciso ser maior de idade e basta levar documentos de identificação com foto, comprovante de residência e assinar um termo de responsabilidade. O atendimento é de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h, na sede do órgão, na Avenida Presidente Vargas, 180, bairro Pecuária. O telefone de contato é (22) 98126 5234.