A Polícia Federal e a Receita Federal tentam encontrar parte dos recursos que teriam sido desviados pelo suposto esquema de corrupção comandado pelo governador Luiz Fernando Pezão (MDB). A análise de duas contas bancárias mostra que ele quase não sacava dinheiro delas. Investigadores dizem que isso leva a crer que ele usava recursos financeiros de contas de terceiros ou que tenha muito dinheiro vivo guardado. A defesa do governador, que foi preso semana passada, entrou, na tarde dessa segunda-feira (3), com um pedido de liberdade no Supremo Tribunal Federal (STF). Também nesta segunda-feira, o ex-governador Sérgio Cabral (MDB) foi condenado a mais 14 anos e cinco meses de prisão. Somadas, as sentenças de Sérgio Cabral já chegam a quase dois séculos.
Pezão foi preso na última quinta-feira (29) no Palácio Laranjeiras, residência oficial do chefe do Executivo estadual. Ele está na Unidade Prisional da Polícia Militar em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.A Justiça derrubou neste fim de semana o sigilo do pedido de prisão do governador.
Novas revelações levantam mais indícios contra o governador do Rio. O doleiro Álvaro Novis, delator da Lava Jato, disse que entregou dinheiro para um assessor de Pezão, segundo o Ministério Público Federal (MPF). Em depoimento, ele disse que entregou dinheiro diretamente nas mãos de Luiz Carlos Vidal Barroso, o Luizinho, que trabalhava com Pezão e também está preso.
Para tentar provar o que contou na Justiça, Álvaro Novis entregou gravações das conversas entre um funcionário da corretora de valores dele e Luizinho, o assessor de Pezão. Em ligações, o funcionário diz a Luizinho que tem uma “documentação” para entregar. Segundo a investigação, este é o nome ao qual se referiam para falar sobre o dinheiro da propina.
Nas planilhas de Novis, o governador é chamado de “Pé”, “Pé-grande”, “Big Foot” e “Pezonne”. Ao lado dos codinomes, há valores entre R$ 50 mil e R$ 3 milhões. Segundo o MPF, há provas documentais do pagamento em espécie a Pezão de quase R$ 40 milhões, em valores de hoje, entre 2007 e 2015.
Flávio Mirza, advogado do governador, nega as acusações. “Ele não tem nenhuma movimentação vultosa ou sinais de riqueza porque ele não tem riqueza. Ele tem um patrimônio modesto, compatível com os 36 anos de vida pública dele”, afirmou.
Em nota, o advogado de Luiz Carlos Vidal Barroso, o Luizinho, que também está preso, diz que seu cliente “nunca foi destinatário ou portador de propinas para o governador Pezão”.
STF – O relator do pedido da defesa de Pezão no STF, que está em segredo de justiça, é o ministro Alexandre de Moraes. Ele ficou com a relatoria porque, mais cedo, foi sorteado relator de pedidos de liberdade de Cláudio Fernandes Vidal e Luiz Alberto Gomes Gonçalves, também presos na Operação Boca de Lobo, a mesma que prendeu o governador.
Sentença – O ex-governador Sérgio Cabral foi mais uma vez condenado na 7ª Vara Federal Criminal. Cabral e outros réus foram condenados com base em denúncia apresentada no início de junho pelo MPF. O texto citava pagamento de R$ 1,7 milhão em propina.
Witzel: “Desgaste grande para nosso Estado”
O governador eleito do Rio, Wilson Witzel (PSC), que viaja, nesta quarta-feira (4), para Israel, onde irá conhecer a tecnologia de drones que fazem disparos voltou a comentar, nessa segunda, a prisão do seu antecessor Luiz Fernando Pezão. Witzel disse que o Estado precisa recuperar a credibilidade: “O governador está preso, o ex-governador está preso, é um desgaste muito grande para o nosso Estado. Para que a gente possa recuperar essa credibilidade vamos ter o ano de 2019 para poder colocar na rua esses editais de aquisição de sistema de monitoramento, de ajuste da saúde”, disse.
Wilson Witzel também falou sobre o primeiro ano de governo e admitiu que será de sacrifício: “Vai ser um ano de ajuste, colocar a casa em ordem para que em 2020 tenha três anos pra surfar”.
Em discurso a empresários durante evento no Copacabana Pallace, ele disse que “não atrapalhar às vezes já é uma grande ajuda” e que acabar com a corrupção é acabar com o corrupto.
E acrescentou: “O Estado não quer ser sócio dos senhores, muito menos cúmplices”, disse em alusão a casos de corrupção revelados pela Lava Jato e que levaram um governador e um ex à prisão. “O que queremos é não atrapalhar. Queremos é ajudar. Fazer com que o Estado resolva as demandas”.
PGR pede investigação federal
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou recurso, nessa segunda, onde solicita que o ministro Edson Fachin reconsidere a decisão de enviar à Justiça Eleitoral as investigações contra os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, ambos do MDB. Os dois estão entre os investigados em um inquérito aberto a partir de informações fornecidas em colaboração premiada por executivos da Construtora Odebrecht. Moreira é o único governador vivo eleito pelo Estado do Rio que ainda não foi preso em alguma ocasião.
Segundo os depoimentos, a empresa pagou R$ 14 milhões – em vantagens indevidas – a líderes do MDB, com destaque para o então vice-presidente, Michel Temer, e os ministros. Dois episódios revelados pelos colaboradores foram incluídos no inquérito. O primeiro – negociado no início de 2014 – tem como objeto a atuação do então ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, para manutenção de exigências que beneficiaram o grupo econômico em um processo de concessão aeroportuária e que rendeu R$ 4 milhões de propina aos investigados. Já o segundo refere-se a um pedido de R$ 10 milhões a pretexto de doações eleitorais, feito em maio do mesmo ano, durante jantar no Palácio do Jaburu.
Em 25 de setembro, Dodge solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a investigação referente a Michel Temer fosse suspensa até o fim de seu mandato. (S.M.) (A.N.)