Esquema que envolvia vice-governador de Minas e Joesley entregava propina em caixas de sabão

Uma das maiores redes de supermercados do país também teria integrado a engrenagem de lavagem de dinheiro oriundo do esquema, repassando aos destinatários finais os valores ilícitos em dinheiro vivo e em contribuições “oficiais” de campanha

Vice-governador de Minas Gerais, Antonio Andrade (MDB) e Joesley BatistaVice-governador de Minas Gerais, Antonio Andrade (MDB) e Joesley Batista – Montagem O DIA

São Paulo – O esquema investigado pela Operação Capitu, que prendeu nesta sexta-feira os empresários Joesley Batista e Ricardo Saud, e o vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade (MDB), fez entregas de dinheiro “em caixas de sabão e malas”. Também são alvos pessoas que atuavam na Câmara e no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Segundo a força-tarefa da Polícia Federal, Receita e Procuradoria, uma das maiores redes de supermercados do país também teria integrado a engrenagem de lavagem de dinheiro oriundo do esquema, repassando aos destinatários finais os valores ilícitos em dinheiro vivo e em contribuições “oficiais” de campanha.

O total de doações “oficiais” feitas por empresas vinculadas e administradas por um empresário do ramo de supermercados nas eleições de 2014 totalizou quase R$ 8,5 milhões.

“Era tipo uma propina a cabo. No supermercado, eles quitavam a dívida com o supermercado, o dinheiro não saía do supermercado, depois passava para o destinatário final. Dólar cabo como funciona? Doleiro no exterior liga para o doleiro aqui no Brasil e fala: disponibiliza tal valor para meu cliente. O doleiro aqui fica devendo para o doleiro lá de fora e depois repassa esse dinheiro. Não havia transmissão direta dos valores. Havia um acerto entre as partes.”

Além do dono do grupo J&F e colaborador premiado Joesley Batista, foram presos na Capitu outros dois delatores do grupo, Demilton Castro e Ricardo Saud. Entre os 19 presos na Operação Capitu está o deputado federal eleito Neri Geller (PP/MT), sob suspeita de ter recebido propinas do grupo J&F/JBS. Geller foi localizado em um hotel no município de Rondonópolis (MT), a cerca de 220 quilômetros da capital Cuiabá.

A PF informou que o deputado eleito exercia o cargo de ministro da Agricultura, em 2014, quando teria recebido propinas em troca de decretos que beneficiaram o grupo. As investigações apontam pelo menos R$ 7 milhões destinados a Geller e aliados. A defesa do deputado eleito disse que só vai se manifestar quando tiver acesso aos autos da Operação Capitu.

De acordo com a Polícia Federal, o inquérito policial foi aberto em maio deste ano, baseado em declarações do corretor Lúcio Bolonha Funaro, sobre supostos pagamentos de propina a servidores públicos e agentes políticos que atuavam direta ou indiretamente no Mapa em 2014 e 2015.

Defesas

André Callegari, advogado de Joesley, se manifestou por meio de nota. “Joesley Batista é colaborador da Justiça e tem cumprido à risca essa função. Portanto, causa estranheza o pedido de sua prisão no bojo de um inquérito em que ele já prestou mais de um depoimento na qualidade de colaborador e entregou inúmeros documentos de corroboração. A prisão é temporária e ele vai prestar todos os esclarecimentos necessários”.

O advogado Pierpaolo Bottini também se manifestou: “a investigação só existe porque os executivos da J&F colaboraram com a justiça. O acordo segue vigente. Joesley, Saud e Demilton já depuseram, cada um deles, três vezes na Justiça, e nunca se recusaram a colaborar. Esperamos que a prisão seja revogada assim que esclarecidos os fatos”.

A reportagem está tentando localizar todos os citados. O espaço está aberto para manifestação.

Por ESTADÃO CONTEÚDO

O DIA

 

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