‘Vamos criar um disque-corrupção’, anuncia Wilson Witzel, governador eleito no Rio

Wilson Witzel, governador eleito no estado do Rio de Janeiro

Wilson Witzel, governador eleito no estado do Rio de Janeiro Foto: Leo Martins / Agência O Globo.

O servidor será vigiado. A advertência é do governador eleito Wilson Witzel, que anunciou a criação de disque-corrupção e de um serviço de compliance no estado. Ainda tateando no Plano de Recuperação Fiscal, ele defende, por ora, a manutenção do veto que garante a venda da Cedae, conselho do quase ex-governador Pezão. A lista tem mais planos: reduzir, “quem sabe até zerar’’, o ICMS de alguns setores, acabar com o limite de prazo das concessões e abrir ruas na Rocinha, assentando desalojados em prédios no entorno da comunidade. Witzel voltou a defender uma polícia com licença para matar bandidos portando fuzis e mais clubes de tiro. Morador do Grajaú, já reconsidera ficar no bairro. Logística, privacidade e política (de boa vizinhança) estão entre as razões: “Os vizinhos não aguentam. Passa um e grita: ‘Marielle!’. Aí passa outro: ‘Fascista’. Uma coisa que eu não sou é fascista’’.

O senhor mudaria o Plano de Recuperação Fiscal? O último relatório que está na internet mostra que há uma frustração de R$ 1 bilhão.

Não tive acesso. O governador Pezão me aconselhou a manter. Disse que estão trabalhando muito para cumprir as metas. Durante a campanha, os relatórios não pareciam satisfatórios.

Na campanha, o senhor falou que reveria o acordo.

Não posso assumir sem uma proposta alternativa. Com os dados nas mãos, fico mais confortável de tomar algumas decisões.

Entre as metas em atraso, está a licitação das linhas intermunicipais de ônibus. O senhor pretende fazer?

Sem dúvida, mas ainda não tenho conhecimento do modelo. Será analisado pelos procuradores do estado que vão trabalhar na transição.

Além do déficit no orçamento, há restos a pagar no montante de R$ 8 bilhões.

Quem me falou que a situação era confortável foi o governador Pezão.

Em quanto tempo o senhor acha que consegue tirar o Rio da calamidade financeira?

Acredito que até 2022 o Rio vai ter plena capacidade de pagamento. Mas temos um déficit previdenciário que não será resolvido.

A ideia de renegociar a dívida em até cem anos está de pé?

As medidas do Plano de Recuperação Fiscal estão se mostrando viáveis. Temos um plano A. O Plano B seria fazer uma proposta de renegociação. Não descarto.

O senhor vai pedir ao governador Pezão que encaminhe algum projeto de seu interesse para a Alerj?

Prorrogar o Fundo de Combate à Pobreza. Defendo que seja vetado o dispositivo de um projeto que proíbe a venda da Cedae. Vou analisar a possibilidade de enviar este ano um projeto de lei que deixe de prever que o prazo máximo de concessões no estado seja de 25 anos. Minha ideia é que o prazo seja definido em cada Parceria Público-Privada (PPP). Podemos fazer várias concessões. Há o autódromo…

Mas o novo autódromo é um projeto da prefeitura…

Pode ser da prefeitura, pode ser do estado. Quem fizer a PPP que fique dona do negócio. Tem também a nova concessão do Maracanã: ali há exigências contratuais que não foram cumpridas, como demolir o estádio Célio de Barros.

A Aldeia Maracanã também ?

Não sei por que chamam aquilo de Aldeia Maracanã. Não tem nada histórico ali. Tem que ser analisado o aspecto econômico.

O senhor fala em dar incentivos fiscais para atrair empresas. Pode citar em que áreas?

As empresas de aviação querem redução de ICMS. Essa receita (do turismo) o Rio não tem. Se puder até zerar a alíquota de ICMS e fazer um escalonamento de voos para cá, vamos gerar empregos. Vou fazer um estudo econômico sobre isso.

O estado tem condições de investir recursos próprios em infraestrutura?

Quem tem capacidade de investimentos é o setor privado. Aposto no modelo de PPPs. A partir de janeiro, vamos lançar várias. Vamos convocar empresas interessadas em modelar projetos. A meta é fazer isso em 200 dias, das audiências públicas até a assinatura de contratos. Se conseguirmos, teremos PPPs já entre outubro e dezembro de 2019. Poderemos implantar pedágio no Arco Metropolitano, por exemplo.

O Arco Metropolitano voltou a ser gestão federal…

Vou conversar com o presidente da República para retomar, fazer parceria. Como vou conversar com o prefeito Marcelo Crivella se ele quer substituir os BRTs por metrô de superfície. Tem a questão das barcas e dos trens da Supervia: as empresas querem devolver as concessões. Temos prioridade em investir na infraestrutura de transportes.

Sua campanha bateu muito no tema corrupção. Como combatê-la?

Vamos criar um disque-corrupção. E um programa de teste de integridade do servidor. Teremos um setor para análise de sinais exteriores de riqueza. Servidor será vigiado: tem que explicar se estiver com carro, casa ou patrimônio incompatíveis. Vou convidar uma pessoa para criar um programa de compliance, que valerá até para o governador.

Fará mesmo um Plano de Demissão Voluntária?

Temos que avaliar o orçamento de 2019. Se não der, em 2020 certamente.

Voltando ao ICMS, um deputado eleito do PSL quer propor na Alerj a redução ou até o fim do imposto para o setor de armas e munições. O senhor é a favor?

Não vou opinar, não conheço o impacto. Mas pretendo estimular a abertura de clubes de tiro. A população tem vontade de conhecer armas. Os clubes vão ajudar a desmistificar a necessidade de ter armas em casa .

O senhor tem arma?

Tenho dez seguranças armados cuidando de mim. Já tive, mas jamais precisei usá-la. Fui vítima de um assalto e não achei necessário reagir.

Mas a população em geral teria a mesma condição de avaliar?

Certamente, com condicionamento. É como andar de bicicleta.

O senhor tem dito que seu governo terá metas a cumprir em quatro anos Quais seriam para a segurança?

Quero chegar em 2022 com uma taxa de homicídios por 100 mil habitantes abaixo de dois dígitos (em 2017, foi de 40 por 100 mil). Teremos metas para diminuir roubo de cargas, a estabelecimentos comerciais, latrocínios.

O senhor quer acabar com a Secretaria de Segurança, mas esse é um órgão que existe em todos os estados.

É um corpo estranho em órgãos técnicos. Os outros estados têm, mas a segurança é uma porcaria. A polícia precisa investigar mais .

O senhor defende que policial abata traficantes com fuzil mesmo sem reação. Isso desagrada alguns setores da sociedade.

Só não desagrada o cidadão de bem.

Como evitar que isso vire um estímulo para condutas indevidas de policiais?

Grande parte dos policiais não sabe o que fazer por falta de treinamento. Vamos criar células de combate ao crime em cada batalhão. Eles vão ser treinados para tirar de circulação os fuzis.

Essa política não estimula a polícia a ser mais truculenta?

A polícia tem que ser truculenta com criminoso. Se bandido tiver com arma na mão tem que morrer.

Como ficarão as UPPS?

Algumas comunidades têm a falsa sensação que a UPP dá segurança. Não vejo uma operacionalidade adequada: tem lado que o policial não entra porque tem traficante. Eu pretendo aprimorar o projeto. Vamos buscar recursos para que as comunidades virem bairros. A Rocinha é uma cidade…

O senhor disse que pretende abrir ruas na Rocinha. Como? Existem becos e trechos íngremes, pessoas terão que ser desalojadas.

O projeto prevê a construção de prédios no entorno.

No entorno? Não tem área disponível. Vai desmatar mais?

Os projetos que queremos são viáveis.

O senhor cita muito a Rocinha. Já subiu a Rocinha?

Passei perto da Rocinha, nunca subi. Mas a gente não precisa subir para saber que lá realmente é ruim.

Gabriela Goulart, Luiz Ernesto Magalhães e Selma Schmidt

O EXTRA

 

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