Corpo de escritora Espírita Zíbia Gasparetto é velado em cemitério em SP
Escritora de 92 anos morreu na tarde de quarta em sua casa, no Ipiranga.
Corpo de Zíbia Gasparetto é velado em São Paulo — Foto: Paula Paiva Paulo/G1
O corpo da escritora espírita Zíbia Gasparetto é velado nesta quinta-feira (11) no Cemitério Congonhas, na Zona Sul de São Paulo. O enterro está marcado para as 15h.
Segundo amigos da família, Zíbia lutava desde o início do ano contra um câncer no pâncreas. Ela morreu dormindo em sua casa, no Ipiranga, também na Zona Sul da capital, na quarta (10).
Natural de Campinas, interior do estado, Zíbia ficou conhecida na literatura espírita. Ela se dedicou ao espiritismo por 68 anos e tem 58 obras publicadas, com mais de 18 milhões de exemplares vendidos. Durante sua carreira, a escritora também ganhou notoriedade como médium.
Entre as principais obras estão “O amor venceu”, “Eles continuam entre nós” e “A vida sabe o que faz”.
A autora Zibia Gasparetto durante entrevista na Editora Vida & Consciência na região do Ipiranga, zona sul da capital paulista. Foto de julho de 2010 — Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo/Arquivo
De origem italiana, Zíbia Gasparetto foi casada com Aldo Luiz Gasparetto. Juntos, estudaram a doutrina espírita e passaram a frequentar reuniões públicas da Federação Espírita do Estado de São Paulo, além de realizar estudos em casa.
Zíbia deixa dois filhos, Irineu e Silvana. Outros três filhos já faleceram.
Segundo Irineu, sua mãe sempre foi muito alegre, e neste ano não foi diferente, mesmo sabendo da gravidade da doença. Para ele, a obra dela orienta as pessoas “a relevar, perdoar, a compreender, que são requisitos básicos do bem, que a gente sabe, mas tem dificuldade para fazer”.
Irineu disse que os livros da Zíbia ajudam a “pensar o que estão fazendo delas mesmas”. “Tudo é escolha, você está onde você se põe”, analisa o filho de 65 anos durante o velório.
Uma das netas, Vanessa Gasparetto, de 35 anos, disse que a avó “parecia uma adolescente”. “Brincava demais com as enfermeiras, era o tempo todo assim. E sempre com música”. Vanessa conta que ela gostava de ouvir os cantores Pery Ribeiro e Emílio Santiago.
Livros póstumos
A outra filha viva de Zíbia, Silvana Gasparetto, de 61 anos, contou que a mãe deixou três livros escritos: dois romances e um livro de mensagens, com perguntas e respostas.
Silvana trabalhava com a mãe, e disse que, até janeiro, ela seguia trabalhando todos os dias desde 8h. Na parte da tarde, psicografava. Em fevereiro, descobriu a doença.
Silvana disse que a família “não tem pressa” e “precisa digerir” este momento para depois trabalhar as novas obras. O livro de mensagens deve ser o primeiro a ser lançado, já que chegou a ser revisado por Zíbia. “Ela era muito exigente, gostava de revisar tudo ela mesma”, disse Silvana.
Silvana disse que a mãe trabalhava “24h se dedicando para as pessoas”. Zíbia passava horas autografando livros de fãs. “As pessoas vinham com pilhas de livros, e ela fazia questão de assinar todos”.
Entre os três filhos de Zíbia que já faleceram está o também médium Luiz Gasparetto, morto em maio deste ano vítima de câncer no pulmão.
Homenagem
A editora “Vida e Consciência”, responsável pelas publicações de Zíbia, divulgou, em seu site, uma nota sobre o falecimento da autora.
“Foram mais de 68 anos dedicados ao espiritismo, 58 obras publicadas e mais de 18 milhões de livros vendidos. Agradecemos de coração a todos que permitiram que seus ensinamentos de luz permeassem e transbordassem em suas vidas. Esse legado será eterno e os conhecimentos de Zíbia sobre as relações humanas e espirituais serão transmitidos por muitas e muitas gerações. Ela segue em paz ao plano espiritual, olhando por todos nós. Feliz recomeço!“, afirma o texto.
Entrevista ao ‘Mais Você’
Foto: G1 – Globo.com
Ao Programa Mais Você, em 2011, Zíbia contou que na adolescência colecionava muitas frases de filósofos. Seu primeiro contato com a mediunidade foi aos 22 anos, quando, em um dia, ela se levantou e começou a falar em alemão, mesmo desconhecendo a língua.
“A entidade que estava comigo àquela hora ficava muito brava, porque meu marido não entendia tudo”, relatou a escritora.
Ela contou como foi a relação com seu dom logo após a descoberta. “Nos primeiros dois anos, eu não acreditava que os espíritos pudessem mexer com o seu corpo, com a sua saúde. Parecia que eu iria enfartar, até o dia que eu decidi encarar e percebi que era isso mesmo. Eu não dormia, parecia um zumbi dentro de casa, foi, então, que eu percebi que eles atuam na matéria e mudei completamente”.
Durante o programa, Zíbia também falou sobre seu casamento com Aldo Luiz Gasparetto. “Ele partiu em 1980, ele desencarnou em menos de cinco minutos em um infarto fulminante. Então, eu tive que aprender a andar com as próprias pernas. Acho que ele se foi porque eu precisava desenvolver a minha capacidade, o meu trabalho, e eu fiquei mais livre para isso. Mas ele continua, a vida continua. Se eu estou preocupada com alguma coisa, eu tenho uma poltrona ao lado da minha cama, ele vem e senta, não fala nada, mas eu o vejo ali dizendo para eu ficar firme porque ele está me apoiando. O amor continua”, defendeu.
Ao final da conversa, ela disse: “O mundo está muito sofrido, as pessoas têm que acreditar que a vida continua.”
Por Paula Paiva Paulo, G1 SP