Depois de sofrer ameaça de suspensão em seu fornecimento de energia, Hospital consegue liminar da justiça

Após ameaça de corte de energia, HPC consegue liminar para que serviço seja mantido.

Hospital dos Plantadores de Cana
Hospital dos Plantadores de Cana / Antônio Leudo
Um imbróglio judicial deixou o Hospital dos Plantadores de Cana (HPC) ameaçado de ficar sem energia elétrica a partir desta semana. Responsável pelo fornecimento, a Enel Distribuição Rio divulgou nota, na manhã desta segunda-feira (24), informando que cortaria a luz da unidade filantrópica em virtude de uma dívida superior a R$ 20 milhões, fruto de contas vencidas há mais de 20 anos. A quantia foi negada por Frederico Paes, diretor presidente do HPC desde 2012, com base em decisão judicial. No final da tarde, o juiz Paulo Maurício Simão Filho, da 3ª Vara Cível de Campos, emitiu uma liminar impedindo o corte, sob pena de multa diária de R$ 10 mil, limitada a R$ 100 mil. Uma audiência de conciliação foi marcada para o dia 13 de novembro.
Em sua nota, a Enel informou que “vem tentando há anos negociar o débito, sem sucesso. O hospital foi notificado há um mês sobre o desligamento do prédio da rede da distribuidora por inadimplência, mas ainda não se manifestou em relação ao pagamento ou negociação da dívida de forma efetiva”. Segundo a concessionária, o Sistema Único de Saúde (SUS), a Prefeitura de Campos, a secretaria municipal de Saúde e o Ministério Público (MP) foram comunicados sobre o corte, que ocorreria nesta semana. A Enel ficou de assumir, durante uma semana após a interrupção do fornecimento de energia, os custos de geradores, no objetivo de dar tempo para a remoção de pacientes do hospital.
Conta do mês de agosto paga pelo HPC
Conta do mês de agosto paga pelo HPC

O presidente do HPC disse ter ficado surpreso com o posicionamento da Enel. Frederico Paes enviou à reportagem uma ata de reunião ocorrida no último dia 20 de julho, envolvendo diretores do hospital e representantes da fornecedora de energia. Nela, consta uma proposta da Enel para que o HPC pagasse as contas com vencimento a partir de 25 de julho deste ano, viabilizando assim uma negociação para a quantia total ser parcelada a partir de janeiro de 2019. As contas de agosto e setembro foram pagas, nos valores de R$ 82.020,53 e R$ 76.066,65, respectivamente. Porém, não foi cumprida a promessa da Enel de suspender as ações.

Em agosto de 2017, o desembargador Luiz Fernando de Andrade Pinto, relator do processo, reconheceu o excesso de cobrança. “No momento que a Justiça falar que o valor devido é X, nós vamos começar a pagar o débito. A perícia ainda não foi feita. O mais importante é que o hospital não nega a dívida. O que a gente nega é valor cobrado. Não tem como fazer acordo em cima de um valor que a própria Justiça fala que está errado”, disse o presidente do HPC. Segundo ele, a unidade tem, atualmente, mais de 150 pacientes internados, 98% deles pelo SUS. Entre os pacientes, há recém-nascidos e idosos nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI’s).
Na decisão proferida, o juiz Paulo Maurício Simão Filho entendeu que não se justificava o corte, que “acarretaria risco de morte para vários de seus pacientes, mormente em se tratando de débitos pretéritos, cujo pagamento a parte ré pode buscar por outros meios”.
Conta do mês de setembro paga pelo HPC
Conta do mês de setembro paga pelo HPC

Repasses atrasados

Enfrentando dificuldades financeiras há vários anos, o HPC recebe atualmente cerca de R$ 1 milhão mensal em repasses do SUS e da Prefeitura de Campos. Frederico Paes disse que os repasses atuais estão em dia, mas a gestão anterior do município deixou uma dívida de R$ 7 milhões, que está sendo negociada com a atual gestão.
Foi citado na nota da Enel que, em junho deste ano, “o hospital concluiu uma grande reforma, com a inauguração de um novo Centro Médico”. A unidade conta ainda com ar-condicionado central, catracas de acesso e totens de atendimento eletrônicos, diversas TV’s de LED e carregadores de celular espalhados pela recepção”. Frederico Paes classificou a nota como absurda: “Só porque a população é carente, do SUS, não pode ter direito a um ar-condicionado, conforto, dignidade no atendimento? Só porque é pobre tem que ficar no calor? Não concordamos com isso. É um absurdo essa declaração”.
Em nova nota, já na parte da tarde, mas antes da liminar, a Enel alegou que o hospital não apresentou nenhuma proposta para pagamento da dívida. “O pagamento das faturas correntes é uma obrigação de qualquer cliente e a quitação das contas de agosto e setembro não configura proposta de acordo. O valor de R$ 20 milhões de dívida, que está sendo oferecido como proposta de acordo pela Enel, é ainda menor do que o valor definido pela Justiça, que alcançaria R$ 28 milhões (devido a correções e índices do Tribunal de Justiça)”, diz um trecho da nota. Ainda segundo a Enel,” a administração do hospital está se recusando a receber os equipamentos (geradores) e vem impedindo o acesso dos técnicos da Enel às dependências da unidade. Para garantir que os geradores estejam disponíveis e sejam instalados, a companhia está tentando autorização junto à Prefeitura, para utilizar espaço da via pública”.
MATHEUS BERRIEL 
Por:Folha1

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