Batalhões da PM no Rio apreendem menos de 10% dos fuzis encontrados em suas áreas
Em somente uma ação, Polícia Civil apreendeu mais fuzis que o batalhão da PM local em mais de dois anos Foto: Divulgação.
De janeiro de 2016 até julho deste ano, 70 fuzis foram apreendidos em ações das forças de segurança na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio. Nesse período, traficantes que atuam na região mostraram a força de seu poderio bélico expulsando PMs de um posto de policiamento numa das favelas do bairro, a Vila Joaniza. A base foi fuzilada em novembro do ano passado, e os dois agentes tiveram que ser resgatados com um blindado e um helicóptero. Responsável pelo policiamento ostensivo de toda a Ilha do Governador, o 17º BPM conseguiu tirar das ruas apenas três desses 70 fuzis, ou seja, 4% do total. As outras 67 armas foram encontradas e retiradas de circulação pela Polícia Civil ou por unidades de elite da PM, como o Batalhão de Choque ou o Bope.
Levantamento feito pelo EXTRA com base em dados internos da PM, obtidos via Lei de Acesso à Informação, revela que essa escassez de apreensões de fuzis se repete em outros batalhões situados em áreas conflagradas. Policiais do 22º BPM, responsável pelo policiamento de todo o Complexo da Maré, disputado por duas facções, apreenderam somente um dos 66 fuzis encontrados na região entre 2016 e julho deste ano. Já na área do 4º BPM (São Cristóvão), palco de disputas entre duas facções pelo Morro da Coroa, nenhum dos 51 fuzis encontrados no mesmo período na região foi apreendido pela unidade da PM.
A base da PM fuzilada na Vila Joaniza Foto: Pablo Jacob / Pablo Jacob
Ao todo, em sete das 15 áreas da cidade onde pelo menos 10 fuzis foram apreendidos nesses dois anos e meio, menos de 10% das armas foram encontradas pelo batalhão local. Algumas dessas regiões registraram, no último ano, movimentações de traficantes armados com fuzis pelas ruas de seus bairros com o objetivo de invadirem favelas dominadas por bandos rivais — casos das áreas sob responsabilidade do 23º BPM (Leblon), que apreendeu 5% dos fuzis, e do 19º BPM (Copacabana), que não tirou nenhuma arma longa de circulação.
Para o coronel da reserva da PM Paulo César Lopes, uma série de fatores explica o baixo rendimento operacional dessas unidades.
— Quando fui subcomandante do 17º BPM, prendemos o chefe do tráfico e apreendemos sete fuzis no mesmo dia. Posso te assegurar que falta ação de comando. Por vezes, há também omissão e condescendência da parte dos agentes — critica o oficial.
Mais crimes, menos armas
Na área do 4º BPM, somente 19 das 203 pistolas apreendidas entre 2016 e julho deste ano, ou 9%, foram retiradas das ruas por agentes lotados no batalhão. A unidade tem o menor percentual de apreensão de armas de curto calibre — usualmente usadas em roubos a pedestres e de veículos — entre todos os batalhões da capital.
Em números absolutos, foi o 19º BPM que apreendeu a menor quantidade de pistolas: 16, em dois anos e meio. O número é menor do que todos os batalhões do estado, inclusive os do interior, que apresentam indicadores criminais muito mais baixos. Em comparação, o 36º BPM (Santo Antônio de Pádua), responsável pelo policiamento de uma região, no Norte Fluminense, que registrou 10 roubos a pedestres, entre janeiro e agosto de 2018, tirou de circulação 21 pistolas. A área do 19º BPM registrou 405 roubos a pedestres no mesmo período.
Por outro lado, o 41º BPM (Irajá) é o batalhão que registrou mais apreensões de fuzis e pistolas no período analisado. Foram 121 fuzis apreendidos, duas vezes mais que o segundo colocado no ranking. O número corresponde a 88% de todas as armas longas apreendidas na região. Já quem mais aprendeu pistolas foi o 7º BPM, que tirou de circulação 569 armas do tipo no período.
Questionada sobre o baixo rendimento operacional das unidades citadas, a PM alegou que cerca de 80% das ocorrências atendidas por esses batalhões “partem de intervenções urbanas e cotidianas, como briga entre vizinhos, violência familiar, acidente entre veículos e pequenos roubos”. Ainda segundo a PM, “a logística para a apreensão de fuzis, que são armamentos de guerra com considerável potencial ofensivo, incorpora diversos fatores específicos, como o agrupamento de informações de inteligência, a programação de ações pontuais e o emprego de efetivos mais extensos”.
Por fim, a corporação conclui que algumas áreas dentro das regiões sob responsabilidade dos batalhões são ocupadas por UPPs, caso das comunidades da Mangueira, Barreira do Vasco e Tuiuti na área do 4º BPM e das favelas de Manguinhos, Adeus e Arará na região policiada pelo 22º BPM, “o que torna a atuação dos batalhões mais atrelada às áreas urbanas”, de acordo com a PM.
Por:O EXTRA