Vídeo mostra aluno comendo prova Foto: Reprodução
“A gente entra nesta sala como entra numa arena de guerra”. A frase é de um profissional que dá aulas para a turma em que um aluno humilhou o professor Thiago dos Santos Conceição, de 31 anos, no Ciep Mestre Marçal, em Rio das Ostras, Região dos Lagos do estado. Ela tem apenas 15 alunos, mas muito são bem mais velhos do que deveriam para cursar o 9º ano. Um rapaz, por exemplo, tem 17 anos, quando a idade correta desta etapa escolar é 14 anos.— Aquilo que aconteceu no vídeo é exatamente a nossa rotina naquela sala — conta o profissional.
O vídeo que aparecerá agora, contém palavras de baixo calão:
As imagens mostram o adolescente de 16 anos humilhando o professor com agressões verbais e chega até a atirar uma pochete na direção do docente, mas o objeto pega no quadro negro. “Peraí que agora vai acertar”, retruca o aluno quando questionado pelo profissional se a intenção era de que ele fosse atingido. O menino também come a prova que está fazendo e responde as questões com um palavrão. Pelo comportamento, ele ficará suspenso, como punição, até o fim da semana.
— Na porta da sala tá escrito “Turma do terror” porque esses meninos são muito atentados mesmo. Eu mesmo parei de andar com eles porque não aguentei — contou um estudante da escola.
Ontem, houve uma reunião entre o secretário municipal de Educação local, Maurício Henriques Santana, a direção e todos os pais da turma. A ideia do encontro era debater o incidente e buscar soluções para o problema. Ficou acertado que, a partir de agora, haverá um trabalho para tentar estabelecer um comportamento mais sadio entre os estudantes.
— Vamos buscar melhorias. Estabelecemos estratégias para melhorar o diálogo com os aulos através de uma série de oficinas para se discutir várias temáticas, começando pela questão da violência, com dinâmicas e atividades de reflexão sobre o comportamento que eles estão tendo, tiveram e o que eles devem ter como estudante e cidadão — conta o secretário.
A família de uma menina decidiu, ontem, tirar a aluna da escola por diversos casos de violência na unidade. Na última semana, houve uma briga entre estudantes que acabou com os meninos arremessando cadeiras.
– Vou colocar em outra escola porque nessa aqui não dá – conta a mãe.
O menino protagonista do vídeo tem histórico de enfrentamentos em sala de aula. Ele mora numa região pobre de Rio das Ostras e é acompanhado pelos pais. Ontem, na reunião, eles chegaram a se desculpar pelo comportamento do filho. O menino também publicou nas redes sociais uma mensagem arrependido.
“Ninguém é perfeito. Todo mundo já teve um momento de criança. Queria pedir desculpa pelo acontecido, pelo fato de ter feito o que eu fiz na sala de aula. De ter tacado o objeto no quadro, que quase pegou nele (professor), de ter ficado brincando com a prova dele em horário de prova. Nenhum ser humano gosta de ser tratado assim, mas na hora do embalo acaba fazendo, não raciocinando as consequências. Por isso estou aqui pedindo desculpas pelo acontecido, pelo que eu fiz. Reconheço o meu erro. Só isso. Só pedir desculpas. Sei que errei. Errei com o professor. Não gostaria de ter tratado meu pai, meu irmão, nem ninguém da minha família. Depois que a gente faz e para pra raciocinar vê que a gente errou. Esse bagulho é mó responsa. Por isso estou pedindo desculpas a você, professor, pelo Facebook que me entendeu mal. Isso é coisa de marginal, de vacilão, entendeu? A gente tá na escola pra estudar, não é pra ficar debochando da cara de ninguém. Especialmente do professor que não está ali de bobeira ou porque quer, está ali porque tá precisando de dinheiro, fazendo por amor. Isso foi muita mancada minha mesmo. Vacilei. Reconheço o erro. Estou pedindo desculpas pelo meu erro”, disse o rapaz nas imagens.
Thiago dos Santos Conceição decidiu pedir demissão e dará aulas no Rio.
– Eram constantes as agressões, mas a gente sempre acha que vai resolver com diálogo. Eu desejo continuar com a minha profissão, mas temo pela minha vida. Eu tenho medo, porque eu já vi ataques. Se eu não tinha medo de amanhecer morto, que era para eu tomar cuidado para não ser atropelado, que era para eu tomar cuidado para não ser atropelado, para eu tomar cuidado para não ir à escola de carro porque o pneu poderia aparecer furado. Então são diversos ataques que eu vendo sofrendo – contou, em entrevista à TV Globo.