Maitê Proença e a síndrome do “Eu pago meus impostos!” Por Nathalí Macedo
Maitê Proença nasceu em berço de ouro.
A atriz e apresentadora, filha de um desembargador, sulista e branca de olhos claros, é a personificação do privilégio.
Declaradamente contra o bolsa família e outros programas sociais, ela recebe uma pensão do governo, de seu falecido pai.
Em entrevista a Mariana Godoy na RedeTV, argumentou que o benefício está quitado: “Meu pai pagou a vida inteira um imposto específico para isso.”
Justo.
Desembargadores têm salários entre os mais altos do país – seguidos dos juízes e promotores de justiça –, além de incontáveis benefícios como auxílio moradia, carro funcional e duas férias remuneradas por ano – porque onde já se viu juízes e desembargadores pagarem a própria casa e o próprio carro com seus salários?
Talvez por terem um padrão de vida tão longe do padrão da maioria dos brasileiros, desembargadores e sua prole se consideram semideuses – ou deuses, mesmo, vide o caso do juiz que deu voz de prisão a uma agente da lei seca por ela ter dito que ele não era Deus.
Incrível, aliás, como os ricos adoram justificar qualquer coisa com o bom e velho: “Eu pago meus impostos!”, ou, no caso de Maitê, que tem costas quentes, “Meu pai pagou os impostos!”
Todos – menos o Neymar – pagam seus impostos, especialmente o pobre.
A alíquota do imposto sobre consumo no Brasil é uma das mais altas do mundo. A alíquota do imposto sobre grandes fortunas, por sua vez, é inexistente.
Isso significa que, enquanto gente como Maitê recebe gordas pensões do governo, mesmo não precisando delas, as parcelas mais pobres da população levam o país nas costas e têm negados direitos básicos como saúde e educação pública de qualidade.
Significa, em última instância, que vivemos em um país para ricos.
Maitê disse, ainda, que não deve explicações sobre sua vida privada e sobre como distribui seu dinheiro.
Não precisa explicar, tia: a gente sabe que você se recusa a casar civilmente pra não perder a boca-livre.
A gente sabe que você critica a inexpressiva ajuda dada pelo governo aos miseráveis, mas acha justíssimo que gente privilegiada como você receba benefícios do Estado.
Vagabundo não é o beneficiário do bolsa família, que recebe uma quantia mensal ínfima porque nunca teve oportunidade de trabalho e qualificação profissional.
Vagabundo é quem vive do que não produziu e recebe benefícios dos quais não precisa e aos quais não faz jus.
Em um país sério, as Maitês teriam, sim, de explicar sua incoerências e programas sociais como o bolsa família não seriam questionados por gente que nunca conheceu a fome.
Vivemos, entretanto, o país em que juízes prendem civis que se atrevem a dizer que eles não são deuses.
Um país que, portanto, não é e não pode ser sério.
Compartilhem.
RA.noticias.com