Viúvo confessa ter encomendado a morte de Patrícia Manhães em Campos RJ
Logo no início da audiência no segundo dia de julgamento dos acusados de assassinar a analista judiciária Patrícia Manhães, na manhã desta quinta-feira (5), o marido da vítima, Uenderson de Souza Mattos, confessou, durante interrogatório do Ministério Público, ter encomendado a morte da esposa e afirmou que não houve a participação dos outros dois réus — Genessi José Maria Filho e Jonathan Bernardo Lima — no crime.
O juiz titular da 1ª Vara Criminal de Campos, Bruno Rodrigues Pinto, deu início aos trabalhos no Fórum Maria Tereza Gusmão às 11h35, e o Ministério Público passou a interrogar o acusado de ser mandante do crime. A princípio, Uenderson pediu para que as respostas fossem dadas pelo advogado, mas o juiz explicou que ele teria o direito de permanecer em silêncio ou falar. O réu, acusado de ser o mandante do crime, confessou, então, a morte da esposa.
Em seguida, a defesa refez as perguntas da acusação, e ele repetiu as respostas, admitindo ter matado sozinho a então esposa e mãe dos seus dois filhos.
Uenderson não fez mais nenhuma declaração e o juiz passou para o interrogatório de Genessi. Este alegou que apenas mantinha uma relação de trabalho com Uenderson e disse que as ligações que fazia para ele era para falar com o comandante da Guarda Municipal, para quem trabalhava como motorista.
Sobre Jonathan, o Genessi disse que o conhece bem, considerando-o como um filho. Em relação à festa que Jonathan teria dado com o dinheiro da contratação da morte da analista, Genessi disse ter acontecido no Dia do Trabalhor e que teria sido organizada pela comunidade do Parque São Matheus.
Em seguida, a defesa instruiu o réu a não responder perguntas da acusação, mas o promotor questionou a ligação feita por Uenderson para ele quatro minutos antes do crime. A ligação teria demorado 43 segundos, mas ele disse não ter conversado com o outro réu.
O promotor ainda questionou se Genessi sabia do contato de Uenderson com Jonathan e ele disse que não. O promotor repetiu a pergunta, frisando que as conversas por telefone existiram e explicando que a acusação apenas questionava se ele tinha ciência dessas conversas.
O juiz iniciou, então, o interrogatório de Jonathan, perguntado se ele tem ciência do que está sendo acusado e que pode permanecer em silêncio. Pergunta se ele participou do crime e ele disse não ter nada a ver com a morte de Patrícia. Ele disse ainda que conheceu Uenderson pela mídia, depois de implicarem seu nome no caso.
Jonathan falou também que já foi genro de Genessi e participava do “movimento” (tráfico de drogas) e que por isso seu nome pode ter sido associado ao crime que não praticou. Ele completou dizendo que, se tivesse mesmo praticado um homicídio por dinheiro, teria sido morto pelo tráfico. Quanto à festa, perguntado pela defesa, o réu disse ter organizado para a filha em fevereiro, só alugando os brinquedos. A festa no Dia do Trabalhador teria sido bancada pelo RCP, facção do tráfico que integrava.
O juiz deu um intervalo e o julgamento será retomado às 14h.
O julgamento
O julgamento dos acusados do assassinato da analista judiciária Patrícia Manhães — Uenderson de Souza Mattos, marido da vítima; Genessi José Maria Filho e Jonathan Bernardo Lima — começou nessa quarta-feira (4), presidido pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Campos, Bruno Rodrigues Pinto, e foi retomado na manhã desta quinta. Os réus são julgados por júri popular no Fórum Maria Tereza Gusmão, em Campos, local onde Patrícia trabalhava e conheceu o guarda municipal Uenderson, com quem teve dois filhos. Uenderson é acusado de ser o mandante do crime, inicialmente denunciado, por ele, como latrocínio. Amigos de trabalho e familiares da vítima e dos acusados acompanharam a audiência e estão no fórum para o segundo dia de julgamento.
O irmão da vítima Marcelo Manhães Gonçalves, que prestou depoimento nessa quarta como testemunha de acusação, preferiu, assim como outros familiares de Patrícia, não falar com a imprensa antes da audiência, explicando que prefere se manifestar após a decisão do júri e definição da sentença.
A audiência no Tribunal do Júri começou com o interrogatório dos acusados e depois haverá o debate da defesa e acusação. A seguir, os jurados serão liberados para a deliberação sobre as provas, os testemunhos da audiência anterior e argumentos apresentados no debate, para chegarem a um consenso. Com base na deliberação do júri, o juiz pronuncia a sentença e, havendo condenação, com a pena de cada réu.
O julgamento começou por volta das 12h dessa quarta, após seleção dos jurados — cinco mulheres e dois homens. O juiz leu a denúncia do MP, segundo a qual Uenderson teria combinado com Genessi a contratação da morte de Patrícia. Os dois trabalhavam na Guarda Municipal de Campos, sendo que, na época do crime, Genessi atuava no Grupamento Ambiental (GAM). Genessi, segundo o MP, foi encarregado por Uenderson de contratar Jonathan, que, com um comparsa, não identificado, atirou em Patrícia. O dinheiro do crime teria pago um baile funk, no aniversário da filha de Jonathan.
A denúncia apontou que o crime, ocorrido em 13 de abril de 2016, foi qualificado como homicídio encomendado, em troca de favores ou vantagens entre Uenderson e Genessi, praticado sob emboscada, de difícil defesa pela vítima e por motivo fútil. Uenderson queria a morte da esposa para manter o caso de mais de um ano com uma amante e se beneficiar da pensão, superior ao salário que recebia como auxiliar de segurança na GCM. A denúncia também citou o menosprezo à condição fragilizada da vítima: mulher, esposa e mãe.
A primeira testemunha da acusação foi o titular da 146ª Delegacia de Polícia (Guarus), Luís Maurício Armond. “Quatro minutos antes de a esposa ser morta, Uenderson ligou para Genessi. Patrícia, se sentindo temerosa por estar sozinha no carro, fez diversas chamadas para o marido também”, destacou Armond, que deu sua conclusão. “Uenderson usava diferentes telefones para contatar Genessi e os contatos eram constantes durante o mês anterior ao crime e depois foram ficando esporádicos, o que nos chamou a atenção. Quando interrogamos Jonathan, ele disse ser ajudante de pedreiro, mas poucos dias após a morte da analista, ele deu uma festa para a filha, com cerveja para todo mundo, brinquedos, o que não poderia ser bancado com um salário de pedreiro. São várias provas de que Uenderson, sem considerar a esposa e mãe de seus filhos, encomendou sua morte, para dela se beneficiar”.
Na sequência, a inspetora Carolina Soares, que acompanhou a investigação, relatou que o carro foi estacionado em um ponto anterior às janelas da base, onde nenhum guarda pudesse avistá-la. Uenderson alegou que foi ao local para a entrega de uma pipa a um primo que estava há sete anos com ele.
Ainda segundo a inspetora, no dia do crime a primeira pessoa para quem Genessi ligou foi Uenderson, que, por sua vez, ligou para a amante. Quando interrogada, a mulher contou que começou a estranhar o comportamento de Uenderson após o crime. Segundo ela, ele discutia como seria dividido os bens, valor de pensão, em nenhum momento demonstrando estar fragilizado. Uenderson ainda propôs à amante que ela largasse o marido para que ele a assumisse.
Por:Folha1