RIO DE JANEIRO Operador diz que grupo ligado a Cabral usou helicóptero para transportar propina
TV Globo teve acesso com exclusividade a delação de Carlos Miranda. Ele afirmou que Sérgio Ruy, ex-secretário de Cabral e Pezão, montou esquema de propinas.
TV Globo teve acesso com exclusividade a novos trechos da delação de Carlos Miranda, apontado pela Justiça como operador do esquema financeiro chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral. Miranda revelou que o grupo usou até helicóptero para trasportar propina.
De acordo com a delação, Miranda diz que em 2012 recebeu a ordem, de Wilson Carlos, então secretário de governo na gestão de Cabral, para fazer pagamentos mensais de 100 mil reais ao PDT, para Carlos Lupi. Lupi é o presidente nacional do PDT desde 2004.
Carlos Miranda afirma que pagava para uma pessoa conhecida como Senhor Loureiro, que seria tesoureiro do PDT, e que as entregas eram feitas na sede do partido pelos funcionários do doleiro Renato Chebar. Os pagamentos teriam sido feitos de 2012 até março de 2014.
O operador já disse que o esquema chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral movimentou meio bilhão de reais e com quantias tão grandes e interessados com tanta pressa em botar a mão no dinheiro, ele não podia perder tempo. Miranda contou – em outro trecho da delação – que pra recolher R$ 400 mil numa empresa no interior do estado, chegou a alugar um helicóptero .
Miranda afirmou que o transporte aéreo aconteceu na campanha eleitoral de 2010 e que o dinheiro vinha de propina na área da saúde.
Carlos Miranda contou aos procuradores que o homem por trás do dinheiro era Ronald de Carvalho, empresário muito amigo de Luiz Fernando Pezão, atual governador do Rio, que na época era vice-governador.
Ronald de Carvalho é dono da Metulúrgica Valença, que teve contratos milionários com o governo do Rio para construir com contêineres das UPAS. O TCU já apontou irregularidades nesses contratos
Carlos Lupi e o PDT declararam que nunca tiveram nenhum tipo de relação com o delator e que jamais receberam qualquer tipo de vantagem.
Secretaria de Meio Ambiente
Carlos Miranda também disse que houve pagamento de propina pra a Secretaria de Meio Ambiente no primeiro mandato de Sérgio Cabral, entre 2007 e 2010.
É a primeira vez que nomes da secretaria aparecem nas investigações. O delator afirma que construtora Queiroz Galvão pagou 300 mil reais para a ex-presdiente do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), Marilene Ramos, e para Carlos Minc, o então secretario de Meio Ambiente de Cabral, que era do PT.
Carlos Minc hoje é deputado estadual pelo PSB. Ele afirmou que recebeu uma única doação de campanha da Queiroz Galvão, por intermédio do PT, e que a declarou na prestação de contas.
A ex-presidente do Inea, Marilene Ramos negou que tenha recebido os valores e que conheça Carlos Miranda.
A Queiroz Galvão e a defesa do empresário Ronald de Carvalho não quiseram comentar.
Ex-secretário de governo
Na delação, que foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal, Carlos Miranda envolve também o ex-secretário dos governos Cabral e Pezão, Sérgio Ruy Barbosa.
Sérgio Ruy Barbosa foi ex-secretário de Gestão e Planejamento do governo Cabral e de Fazenda do governo de Luiz Fernando Pezão. Segundo Carlos Miranda, Sérgio Ruy montou desde o primeiro mandato, aproximadamente em 2009, um esquema de pagamentos de propina.
Miranda diz ainda que o dinheiro era dividido entre Sérgio Cabral e Sérgio Ruy, metade para cada um, e que os pagamentos eram a cada dois meses e envolviam as empresas que faziam empréstimos consignados com servidores do estado.
De acordo com a delação, o esquema envolvia um empresário chamado Alexandre Moura. Miranda diz que pegava essa propina na casa dele, numa cobertura na avenida Delfim Moreira, no Leblon e que estes pagamentos rendiam, por ano, cerca de R$ 1 milhão só para Cabral. Essa fonte de propina durou, segundo o delator, até o fim do governo Cabral, entre 2013 e 2014.
‘Prêmios a membros da organização criminosa’
Miranda também detalhou em sua delação a propina relacionada à Fetranspor, a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do estado do Rio. Segundo o operador financeiro de Cabral, o ex-governador usava das negociações com a Fetranspor para dar prêmios a membros da organização criminosa.
Ele revelou ainda que, além do ex-secretário Sérgio Ruy Barbosa, também foram beneficiados o ex-presidente do Detro, Rogério Onofre, e os secretários Wilson Carlos e Régis Fichtner. Segundo Miranda, Sérgio Ruy recebia de R$ 450 a 500 mil por ano.
O delator disse que o ex-secretário recebia dinheiro por meio de uma empresa que pertencia a sua ex-mulher, Ana Paula. A empresa AGP foi usada por ele para receber tanto as propinas da Secretaria de Planejamento quanto o dinheiro dos “prêmios”. Ele contou ainda que esses valores, cerca de R$ 50 mil por mês, foram recebidos de 2009 até 2014.
Aplicativo de mensagens que apaga textos
Na delação, Miranda informou que se comunicava com o ex-secretário Sérgio Ruy por meio do aplicativo de mensagens Wickr, que apaga automaticamente os textos logo depois do envio. Carlos Miranda também detalhou como Sérgio Ruy trouxe mais uma fonte de propinas para a quadrilha.
Segundo o delator, Sérgio, como secretário de planejamento, disse a ele que fez um acordo com um empresário chamado César Pires, que tinha ganhado uma licitação para fornecer sistema de controle de frequência de servidores públicos, e que a propina gerava de R$ 300 a 400 mil para Cabral.
O acordo teria começado, segundo Miranda, no início do governo de Cabral e durou até o fim de seu mandato em 2014. Carlos Miranda contou que os valores eram pegos no gabinete de Sérgio Ruy Barbosa, na rua Erasmo Braga, no Centro, ou no apartamento do empresário em Ipanema.
Dinheiro de propina no exterior
Sérgio Ruy também teria mandado dinheiro de propina ao exterior. Carlos Miranda disse que foi procurado pelo ex-secretário por volta de 2011 e 2012, dizendo que tinha uma quantia no banco do Brasil. Segundo o delator, Sérgio Ruy disse que estava preocupado, pois era uma quantia de R$ 800 mil e perguntou a ele se poderia mandar os valores para o exterior.
Carlos Miranda disse que pediu permissão a Cabral para realizar a operação internacional – o que foi autorizado, e que o dinheiro foi retirado e entregue ao doleiro Renato Chebar. Miranda disse que pediu a Chebar que separasse tais valores para uma pessoa de codinome ”tesoura”.
Segundo o delator, “tesoura” se referia a Sérgio Ruy, que era secretário de Planejamento e fazia muitos cortes no orçamento.
Os advogados de Sérgio Cabral disseram que o delator não apresentou nenhuma prova do que disse. As defesas de Wilson Carlos e Régis Fitchner negam as acusações. A Fetranspor disse que desconhece o teor da delação que se refere a fatos supostamente ocorridos antes da posse da nova direção e que permanece à disposição da Justiça.
O governo do estado disse que não vai comentar. O RJTV não conseguiu contato com o ex-secretário Sérgio Ruy Barbosa nem com outros citados na reportagem.
O Globo