Conselho de psicologia libera terapia online sem restrições

Objetivo da nova resolução é ampliar o acesso da população a serviços de saúde mental

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Acordar, pegar o celular, clicar no ícone do Skype ou do WhatsApp e iniciar uma chamada de vídeo. Do outro lado da tela, um rosto familiar: o do seu terapeuta.

Orientações online já são permitidas desde 2012 pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia), mas a modalidade estava limitada a um atendimento máximo de 20 sessões e com um objetivo específico (superar o término de um relacionamento, por exemplo).

Com a evolução do tema nos últimos anos e a defasagem da resolução que tratava o assunto, o conselho publicou em maio uma nova norma sobre o assunto. As novas regras entram em vigor em novembro.

Com a resolução 11/2018 do CFP, está totalmente liberada a terapia online, da mesma forma que ocorre o atendimento presencial.

“Nós estamos regulamentando uma coisa que já acontece na prática”, diz Rosane Granzotto, conselheira do CFP. Segundo o conselho, mais de 700 sites já buscaram se cadastrar para as orientações online no modelo atual. Para verificar se o endereço está devidamente cadastrado no conselho, é possível checar em http://cadastrosite.cfp.org.br/cadastro/.

Com a nova resolução, esses sites, aplicativos e plataformas que oferecem o serviço terão que se readequar. Antes era necessário cadastrar o site do serviço e esperar pela aprovação do CFP. Agora, os psicólogos que fazem atendimento online terão que, individualmente, fazer um cadastro nacional para então serem autorizados a realizar terapia virtual.

Segundo Granzotto, o objetivo da nova resolução é ampliar o acesso da população a serviços de saúde mental.

Wagner Gattaz, diretor do IPq (Instituto de Psiquiatria) e do Laboratório de Neurociências do Hospital das Clínicas da USP, diz que o uso de tecnologia pode realmente tornar mais acessível o acesso aos serviços. “Um estado como o Amazonas só tem dois ambulatórios de saúde mental.”

Por outro lado, no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE, 69,3% dos domicílios têm acesso a internet. No Norte, por exemplo, a taxa é de 62,4%. As regiões com maior número de domicílios com internet são Sudeste, Centro-Oeste e Sul, com índices acima de 70%.

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Isso pode se refletir também no acesso a serviços online de terapia. No Lüzz, uma das plataformas liberadas pelo CFP que oferece atendimento psicológico, tanto usuários como profissionais se concentram na região Sudeste.

Mudanças de cidades ou de país estão entre as motivações para que as pessoas procurem por atendimento online.

“Eu fazia faculdade na Ufscar (Universidade Federal de São Carlos). Fiz terapia com uma pessoa de lá por muito tempo. Depois eu me formei, mudei de cidade e nunca mais encontrei alguém com quem eu me identificasse tão bem”, conta a também psicóloga Letícia Gonçalves, 27, que continuou sendo atendida pela mesma profissional.

A jornalista Maria (nome fictício), 27, começou a sentir que precisava de alguma ajuda especializada quando, após o término de um relacionamento, decidiu passar um tempo em Taiwan. Principalmente por causa da diferença de idioma, acabou buscando ajuda pela internet.

Dificuldades de locomoção ou de se ausentar de casa ou do trabalho também podem motivar a busca por atendimento online.

Letícia Gonçalves, além de ser atendida a distância, também atende pela internet. A maioria de suas pacientes são mães, que, assim como ela, têm filhos pequenos. “Já voltei a atender”, diz.

“Na minha experiência como clínico, frequentemente atendo pacientes online, principalmente pela quantidade de pacientes que começam a ter uma vida nômade”, diz Christian Dunker, psicanalista e professor da USP.

Para pacientes que estão internados ou em certos quadros de ansiedade em que ir a rua é uma aventura, a estratégia é muito boa, diz ele.

Gattaz fez há alguns anos um estudo comparando atendimentos online e presencial de pessoas com depressão (em estado estável).

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Depois de 12 meses de estudo, os resultados clínicos eram semelhantes, mas os pacientes abandonaram mais o acompanhamento presencial. “Estudos em outros países também mostram uma equivalência entre os dois métodos”, diz Gattaz. “Essa é uma tendência irreversível.”

Por outro lado, Dunker teme que alguns elementos se percam com atendimentos desenvolvidos inteiramente online.

“Quando você está em uma sessão presencial, tem a sensação que aquele espaço simbólico, físico, é um abrigo, um parênteses, uma pausa”, diz. “Quando você está diante de um computador, que é um instrumento que você usa para fazer milhares de outras coisas, essa sensação de abrigo se perde ou diminui um pouco.”

O psicanalista também teme uma possível precarização do trabalho do psicanalista.

Mesmo em sites e aplicativos, os profissionais não podem cobrar menos que o piso e não podem usar o preço como chamariz.

“Para a terapia online ser considerada similar à presencial, os terapeutas precisam adequar a esse novo formato”, diz Cláudia Catão, psicanalista que oferece cursos de terapia online.

Segundo ela, não é incomum ver psicólogos atendendo em locais inadequados. Muitas vezes, os próprios pacientes também aparecem para consultas de forma imprópria, sem camisa ou deitado na cama, por exemplo.

Mesmo com a nova resolução, o atendimento online não deve substituir o presencial, diz Granzotto -segundo ela, a forma mais completa e recomendada de acompanhamento. Com informações da Folhapress.

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