Cresce o tamanho das filas para abastecer nos postos de gasolina por todos os lados
Em seu terceiro dia, a greve dos caminhoneiros em Campos ganha adesão e já começa a provocar falta de produtos na região. “Fui abastecer meu carro no posto do Turfe, ontem (terça) à noite e acabou o álcool na bomba”, contou o técnico em elétrica Jeferson Braga. O desabastecimento poderá afetar, também, o transporte público na cidade. A informação foi confirmada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários. Já em São Francisco de Itabapoana, a Prefeitura emitiu nota, na manhã desta quarta-feira (23), para comunicar à população a possibilidade de suspensão temporária de alguns serviços, porque a empresa que fornece combustíveis à municipalidade está com estoque mínimo.
Em Campos, motoristas mantêm os caminhões parados no km 75 da BR 101 e postos próximos. Os caminhoneiros, que afirmam que a greve é irreversível até que o preço do diesel baixe, ganharam o apoio da população e recebem doações de alimentos e produtos de higiene de representantes da sociedade civil e empresarial.
— Não é mais paralisação; é greve, que será mantida em todo o país enquanto a resposta do governo for essa que estamos percebendo: desprezo para uma causa justa, que é em defesa de toda a população. Já começou a faltar produtos nas prateleiras e isso por irresponsabilidade do governo, pois não há escassez de combustível no país. Combustível sobra e, ainda assim, promovem inúmeros e seguidos aumentos. Com cinco dias de greve, paramos o Brasil e eles (governo federal) não se preocupam com a crise na economia que isso pode provocar? — questionou o presidente da Associação de Apoio aos Caminhoneiros do Rio de Janeiro (Ascam), Waldemar Soares.
Procurado pela equipe de reportagem da Folha 1, o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários, Davi Lopes, disse que, se a situação continuar assim, há grandes chances de que os ônibus parem em Campos. “Não descartamos essa possibilidade. Sem combustível, os veículos não circulam, e são os caminhões que trazem este combustível. Infelizmente, as consequências podem ser muito graves. O sindicato está dando apoio aos caminhoneiros que estão protestando pelos seus direitos. Nosso presidente, Roberto Virgílio, está dando suporte a eles. Oferecemos alguns recursos para os que estão aguardando na BR 101 por uma resposta das autoridades”, disse.
Em nota, a Prefeitura de Campos disse que acompanha o movimento realizado pelos caminhoneiros e monitora os efeitos sobre os serviços prestados em seus diversos setores, principalmente os essenciais, como: Educação, Saúde, Transporte e Limpeza. O executivo informou que “um planejamento está sendo realizado para evitar que a população seja afetada, o que depende do tempo de duração da mobilização”.
A Prefeitura ressaltou, ainda, que, na Educação, há um risco iminente de suspensão temporária das aulas em algumas unidades devido ao abastecimento de água, feito através de caminhão-pipa. “A secretaria de Educação acompanha ainda o fornecimento de alguns produtos não perecíveis destinados à merenda escolar. No setor de Transportes, há racionamento e a prioridade é o abastecimento de veículos da área da Saúde, para atendimentos de emergência, até que a situação seja normalizada”.
O Sistema Firjan também divulgou nota alertando alerta sobre os agravos da paralisação sobre a indústria fluminense, dizendo ser “imprescindível que a paralisação seja encerrada o mais rápido possível, evitando-se problemas ainda mais graves de abastecimento no Estado do Rio”. O sistema Firjan disse que no RJ há casos críticos, como na indústria de alimentos e vidro. “No Sul Fluminense, por exemplo, fornecedores da indústria de laticínios estão descartando a produção de leite devido aos bloqueios nos transportes de carga. No Centro-Sul, frigoríficos de aves também não estão conseguindo escoar a produção”, informou.
“A solução para este impasse, porém, não pode se dar via aumento de impostos. Afinal de contas, esse é o efeito prático na hipótese de uma redução da CIDE ser compensada pela reoneração da folha de pagamento das empresas. Isto iria afetar toda a indústria, que voltaria a pagar aproximadamente R$ 11 bilhões anuais em impostos. Este montante equivale à remuneração de 520 mil empregados dessas atividades que hoje estão desoneradas, ou 7% da folha total”, defendeu o Sistema Firjan.
Nessa terça (22), o Ministério da Fazenda anunciou a eliminação da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), imposto que incide sobre o diesel. A cada metro cúbico vendido, R$ 50 são retidos. O anúncio não animou os caminhoneiros: “São menos cinco centavos por litro de diesel e isso na distribuidora, não é na bomba. Não temos como manter os caminhões rodando com isso. O diesel sai para Bolívia a R$ 0,80 o litro e, para nós, aqui, o preço é R$ 4? Isso é política de governo que tem descaso com o povo, pois são os caminhões que transportam quase toda mercadoria consumida no país”, destacou Amarildo Jorge de Souza Manhães, que é proprietário de empresa de caminhões.
Uma informação equivocada de que os caminhoneiros estariam doando as cargas dos veículos estacionados na BR teria provocado um incidente na noite de terça. “Divulgaram que estávamos doando frutas, alimentos, produtos que iam estragar, e moradores de localidades próximas foram a um posto buscar esses produtos, causando uma confusão, que foi logo esclarecida. A carga não é nossa e não podemos doar. Os donos já disseram que querem receber, mesmo podre. Ao contrário, estamos recebendo doação de todo tipo de produtos que a gente precisa para ficar na rodovia e manter a greve. A população está nos apoiando com tudo e acreditamos que vamos vencer essa situação e conseguir reduzir o valor do diesel a um preço aceitável”, contou o caminhoneiro Márcio Machado, parado no km 75 desde a noite do último domingo.
Doação — A Ascam informou que banheiros químicos devem ser colocados em locais perto da BR 101, no km 75, e informou que as doações não param de chegar. O empresário Jorge de Souza Coutinho estava entre os doadores. “Trouxe arroz, feijão, café, água e outros gêneros alimentícios e produtos de higiene, como forma de contribuir para o movimento dos caminhoneiros. Tenho comércio e sei que já vai faltar mercadoria, mas a causa é legitima e para benefício de todos nós”
(Foto: Rodolfo Buhrer/Reuters)
São Francisco — A greve dos caminhoneiros já dura três dias e acontece em 22 estados e no Distrito Federal. Efeitos do movimento pela redução do valor do diesel já são sentidos em São Francisco de Itabapoana, no Norte Fluminense. Por meio de nota, a Prefeitura informou a possibilidade de suspensão temporária de alguns serviços, pois a empresa que fornece combustíveis à municipalidade está com estoque mínimo, podendo acabar a qualquer momento. A Prefeitura disse que priorizará os serviços essenciais ligados ao Resgate e às ambulâncias, mas que a secretaria de Educação e Cultura poderá, nas próximas horas, suspender aulas. (V.N.) (J.L.)
Por:Folha1