Conselho de Ética aguarda confirmação de endereço para tentar notificar Maluf
Preso em dezembro, deputado está afastado do mandato e atualmente cumpre pena em casa, em São Paulo. Processo no conselho por suposta quebra de decoro está parado desde 10 de abril.
Por Fernanda Calgaro, G1, Brasília
Maluf foi preso em dezembro do ano passado por determinação do Supremo Tribunal Federal e está afastadodo mandato desde fevereiro.
Ele começou a cumprir a pena de 7 anos e 9 meses em refgime fechado na Papuda, em Brasília, e atualmente está em prisão domiciliar, em São Paulo.
No fim de março, após pegar um jato particular, o deputado chegou à capital paulista e foi para a sua casa nos Jardins, bairro nobre da cidade. Em 6 de abril, foi internado no Hospital Sírio Libanês, onde ficou até o último dia 29.
Paulo Maluf é alvo de um processo no conselho que pede a cassação do mandato dele. O parecer preliminar, a favor da continuidade da apuração, foi aprovado em 10 de abril.
Desde então, o caso está parado. Isso porque o deputado precisa ser notificado a apresentar a defesa por escrito.
Atualmente, Maluf não tem direito a gabinete na Câmara e teve de devolver o apartamento funcional.
O processo no conselho
Procurado pelo G1, o presidente do Conselho de Ética, Elmar Nascimento (DEM-BA), afirmou que o conselho ainda não foi informado oficialmente sobre o endereço de Maluf e, por isso, não é possível notificar o deputado afastado.
Segundo Nascimento, o conselho pediu informações ao Departamento Pessoal da Câmara, e o setor informou ter o endereço de um apartamento de Maluf em São Paulo.
“Geralmente, notificamos a partir do gabinete ou do apartamento funcional. Como mando um funcionário para São Paulo sem saber onde ele [Maluf] está? Ele é rico, pode ter vários endereços”, declarou Nascimento.
“Não quero gastar dinheiro da Câmara à toa, com passagem, diária que tem que ser paga ao servidor, hospedagem e deslocamento”, acrescentou.
Técnicos do conselho entraram em contato com a 4ª Vara de Execuções Criminais de São Paulo e foram orientados a aguardar uma audiência marcada para o próximo dia 21 deste mês.
Na ocasião, o juiz responsável por acompanhar a execução da pena irá informar a Maluf as regras para o cumprimento da prisão domiciliar.
“Como é uma questão em que ele se encontra fisicamente muito debilitado, estamos levando com cuidado. Não quisemos notificar no hospital até por uma questão humanitária, mesmo motivo no qual o STF se baseou para dar a domiciliar. Além disso, ele não recebe mais nenhum centavo de verba pública, seja de salário, seja das outras verbas. Então, não há problema em atrasar uma semana, 15 dias. É uma questão de prudência”, afirmou Nascimento.
Pelas regras, o Conselho de Ética tem que fazer três tentativas de notificação e mais uma quarta, com hora marcada. O documento tem que ser recebido pessoalmente pelo deputado.
Se o conselho não localizar o parlamentar, a notificação é feita via “Diário Oficial da Câmara” e “Diário Oficial da União”.
Próximos passos
Maluf foi condenado a 7 anos e 9 meses de prisão por lavagem de dinheiro no período em que foi prefeito de São Paulo – entre 1993 e 1996.
Diante disso, a Rede Sustentabilidade entrou com uma representação no Conselho de Ética por entender que a condenação é fato grave e configura quebra de decoro.
Após o deputado ser notificado sobre a aprovação do parecer preliminar, começará a contar o prazo de até dez dias úteis para apresentar a defesa por escrito.
Depois, haverá a fase de coleta de provas pelo prazo de até 40 dias úteis. Nessa etapa, poderão ser ouvidas testemunhas de acusação e defesa.
Em seguida, o relator do caso terá até 10 dias úteis para entregar o parecer. Com a demora na notificação, esse prazo poderá se arrastar para depois do recesso parlamentar de julho.
Perda do mandato
Paralelamente ao processo que corre no Conselho de Ética, Maluf pode perder o mandato por decisão do Supremo.
Isso porque quando o ministro Edson Fachin determinou a execução da pena, também estabeleceu a perda do mandato.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encaminhou o caso para a Corregedoria da Casa emitir um parecer.
Como ainda havia um recurso de Maluf pendente de análise no Supremo, a Corregedoria opinou por consultar o STF para saber se o processo já havia chegado ao fim antes de decretar a perda do mandato.
Nesse tempo, o Supremo negou o recurso da defesa. Agora, a Câmara aguarda uma confirmação de que o processo transitou em julgado, ou seja, quando não cabe mais recurso. Se isso acontecer, ficará prejudicado o processo no Conselho de Ética.
“Eventualmente, pode acontecer de, durante o processo no conselho, o Supremo se pronunciar sobre isso e aí o processo perder o objeto”, informou Elmar Nascimento ao G1.