Caso Ana Paula: réus e testemunhas de acusação ouvidos na primeira audiência em Campos RJ
Acontece nesta terça-feira (8), no Fórum Maria Tereza Gusmão, a primeira audiência de instrução e julgamento do caso Ana Paula. Estão sendo ouvidos os quatro acusados — Luana Barreto Sales, apontada como mandante da morte de Ana Paula Ramos; Marcelo Henrique Damasceno, que teria, a mando da ré, intermediado a contratação de Wermison Carlos Sigmaringa e Igor Magalhães de Souza, executores do crime — e 11 testemunhas de acusação, entre elas o pai e a mãe da Ana Paula, o irmão da vítima e marido da Luana e a esposa de Damasceno, com quem a Luana teria tratado a contratação pelo Facebook.
A chegada dos réus ao fórum foi atrasada por problemas no veículo da secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) que os levou da Cadeia Pública Dalton Crespo de Castro.
A audiência começou às 16h35, com o depoimento do titular da 146ª Delegacia de Polícia (Guarus), Luís Maurício Armond. O delegado conta o que aconteceu no dia do crime, que estranhou a quantidade de disparos para um crime patrimonial. Armond disse, ainda, que estranhou que a Luana titubeou na hora de fazer o reconhecimento de um dos criminosos.
De acordo com ele, a Luana não foi coerente em nenhum momento das investigações. Ele disse que a Luana chegou a afirmar para ele e para diversas testemunhas que ela teria contratado os homens para dar um susto na Ana Paula, e não para matar. Segundo o delegado, entretanto, o Igor foi categórico em dizer que o “susto” se tratava de assassinato.
Armond afirmou que há um procedimento instaurado para investigar se pessoas ligadas à Luana teriam oferecido R$ 15 mil para que os outros réus mudassem a versão. Segundo o delegado, no entanto, os acusados também queriam que ela alterasse o depoimento dela quanto ao reconhecimento.
Na quebra de sigilo telefônico, foi identificada uma série de ligações da Luana para o Igor, entre as 16h da véspera e 2h do dia do crime. Segundo o delegado, esses contatos teriam sido para negociar a troca do local do crime.
Durante o depoimento do delegado, os três acusados de serem os executores mantêm a cabeça baixa. Luana se mostra atenta e faz sinais negativos e positivos em trechos da fala de Armond. A mãe de um dos acusados teria admitido a Armond que ele participou do crime.
O titular da 146ª DP começou a ser indagado pela defesa dos réus. Armond disse ao advogado do Marcelo que a Luana teria buscado os executores dizendo que queria que dessem um susto na amante do marido da tia, que maltratava o filho do casal, mas que depois converteu para o homicídio. As negociações, segundo o delegado, tiveram início pelo Messenger da mulher do Marcelo e que ela própria disse que teria apagado as mensagens diante da repercussão do caso.
O juiz perguntou a Armond se em algum momento essa criança de 4 anos que seria maltratada foi identificada no decorrer das investigações e ele disse que não, que “a criança ainda não nasceu”.
O depoimento do delegado responsável pelas investigações do caso terminou às 17h37.
Após Luís Maurício, teve início o depoimento do policial militar que prendeu o Igor. Ele contou que estava atendendo uma ocorrência, quando recebeu a informação de uma tentativa de latrocínio e que o autor estaria em um determinado endereço. Ele se dirigiu ao local e viu alguém pulando por uma casa nos fundos. O PM capturou o Igor e o conduziu à delegacia. Segundo o policial, no momento da prisão, o acusado negou que fosse autor do crime, e disse que não tinha arma de fogo. O PM não foi ouvido pela defesa.
Algumas testemunhas se recusaram a falar perante os acusados.
Em seguida, o marido da Luana e irmão de Ana Paula, Paulo Roberto Ramos Filho, foi chamado para prestar depoimento e disse que trabalha em Macaé de segunda a sexta. No sábado, dia do crime, chegou à casa e almoçou normalmente, e que a Luana disse iria ao Centro com a Ana Paula comprar um vestido.
Ele contou que depois começou a ligar para as duas, porque estava ficando tarde, e que em certo momento a Luana atendeu falando sobre o suposto assalto e que a Ana Paula tinha sido baleada. Paulo disse, ainda, que antes disso o marido da irmã teria conseguido falar com ela e que Ana Paula contou que estava na praça de Custodópolis esperando uma amiga da Luana. Ele disse que mandou o marido da irmã ligar de volta, porque o local seria perigoso, mas não conseguiram mais falar com Ana Paula.
Paulo contou que achou estranho as duas estarem naquele local, e que a Luana disse que foi ao lugar para levar uma diferença de caixa para uma amiga, mas que ela não teria avisado antes, somente havia falado que iria ao Centro ver o vestido. O irmão da vítima ressaltou que ficou cerca de 10 anos com a Luana e que nunca havia percebido nada de estranho em seu comportamento.
Diante da falta de clareza da motivação do crime, a acusação afirmou que a Ana Paula disse ao irmão que a Luana estava saindo muito tarde do banco, que passava por lá e via o carro dela muito tarde no banco, e perguntou se ele acha que a Ana Paula pode ter investigado esse comportamento. A testemunha respondeu que a irmã pode sim ter tentado investigar.
Paulo disse também que a Luana se recusou a ir à delegacia quando foi solicitada por conta das indicações dos outros.
Outra testemunha iniciou seu depoimento por volta das 19h. A mulher disse que não conhece nenhum dos acusados, mas que foi à delegacia no dia seguinte ao crime. Ela contou que estava na praça de Custodópolis no dia anterior ao crime e que reparou quando uma mulher “muito bonita” saiu de um carro e encontrou um homem forte. Na praça, segundo ela, também havia outros dois rapazes juntos mais afastados em um banco. De acordo com a testemunha, a mulher e o rapaz mais forte teriam ido para a lateral da praça e conversado por um tempo. Depois, os quatro voltaram juntos e a mulher entrou no carro, entregou um envelope ao rapaz e todos saíram.
Na delegacia, a testemunha viu a Luana e a reconheceu, mas não soube confirmar quem seriam os quatro jovens.
Teve início às 19h35 o depoimento de outra testemunha, colega de trabalho de Luana. Ela disse que não tinha muito contato com a ré, mas que no sábado, dia do crime, a acusada mandou um áudio pelo WhatsApp pedindo que ela levasse uma quantia em dinheiro para cobrir o caixa da Luana na segunda-feira, mas que não era para contar a ninguém, porque ela tinha pegado para um consórcio e que o marido não sabia.
Segundo a testemunha, a Luana teria dito que, caso o marido ligasse, não era para atender. “Ela mandou um áudio apenas, muito nervosa, e falando para não responder”, disse a testemunha. De acordo com ela, na segunda-feira, Luana comentou sobre o suposto assalto brevemente e pediu para depositar R$ 500. A testemunha contou que Luana nunca foi de falar sobre a vida dela.
A testemunha a prestar depoimento em seguida foi uma amiga de Luana na escola, mas que depois perdeu contato. Segundo ela, na quarta-feira antes do crime, Luana ligou falando que o marido da tia dela tinha uma amante, que estava ameaçando a tia e filha da tia, e Luana perguntou se ela não tinha alguém para dar um susto. Ela disse que não, e orientou ir a uma delegacia. A testemunha disse que depois Luana falou friamente sobre o suposto assalto por mensagem. Ela, então, prestou solidariedade e não falou mais com a ré. A testemunha contou que depois ligou o caso à ligação da Luana.
Por volta das 19h55, teve início o depoimento da mãe de Ana Paula. Ela disse que a Ana Paula estranhou a Luana ligar durante aquela semana insistentemente para irem ver o vestido. A mãe achou estranho o horário escolhido por Luana, num sábado à tarde. Como relata a mãe de Ana Paula, questionada sobre o horário, Luana disse que se não tivesse loja aberta, iriam tomar sorvete. Ana Paula chegou a convidar a mãe para sair, mas ela não quis. Ela ainda relata que Luana estava feliz, rindo, como nunca esteve.
A mãe de Ana Paula conta que foi até a casa da Luana na segunda depois do crime para tentar entender o que tinha acontecido. Ela disse que passou a desconfiar da nora depois de ter ido a casa dela. Luana a deixou esperando muito tempo e, depois disso, ela entrou no quarto desesperada, agarrou ela e a perguntou porque a filha dela levou os tiros e a Luana não. Luana, então, disse que precisava ir trabalhar.
Outro depoimento, que teve início por volta das 20h35, foi o da madrinha de casamento de Luana e Ana Paula. Ela era responsável por organizar o chá de lingerie de Ana Paula. Ela contou que Luana não se manifestava muito no grupo de organização. O evento seria no dia dos pais, mas Luana pediu para adiar para o dia que acabou acontecendo o crime. Ela disse que chegou a ir à delegacia, quando Luana estava lá, para tentar ver se Luana falava alguma coisa.
Por:Folha 1