Líderes das Coreias realizam encontro histórico
Presidente sul-coreano Moon Jae-in se encontrou com Kim Jong-un na Zona Desmilitarizada para reunião. Kim é o primeiro líder da Coreia do Norte a cruzar fronteira em mais de 65 anos.
O líder norte-coreano Kim Jong-un cumprimenta o presidente sul-coreano Moon Jae-in ao chegar na Zona Desmilitarizada, na sexta-feira (27) (Foto: Host Broadcaster via Reuters)
Até há pouco seria inimaginável que o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, se sentariam à mesma mesa para tentar estabelecer a paz na península e o fim do programa nuclear promovido pelo governo de Pyongyang.
A agência norte-coreana KCNA afirmou que Kim pretende “discutir de coração aberto com Moon Jae-in todas as questões com objetivo de melhorar relações intercoreanas e alcançar paz, prosperidade e reunificação da península coreana”.
Kim é o primeiro líder norte-coreano a pisar em solo sul-coreano desde o final da Guerra da Coreia (1950-1953), que terminou com um cessar-fogo em vez de um tratado de paz.
O início da conversa entre os dois líderes está marcado para as 10h30 (22h30, em Brasília). A comitiva da Coreia do Sul terá sete pessoas, e a do Norte, nove. Os dois grupos farão uma pausa para o almoço e depois Moon e Kim irão plantar juntos um pinheiro, em um ato simbólico de união.
Depois da chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a Coreia do Norte iniciou uma série de testes de mísseis balísticos e nucleares que provocaram reações enérgicas de Washington e de Seul, novas e firmes sanções internacionais, além de provocar o temor de uma guerra na região.
Também parecia impensável que Trump e o ditador norte-coreano aceitassem se reunir, um encontro previsto para ocorrer no final de maio ou começo de junho, depois de uma série de ameaças e troca de insultos pessoais.
Tudo mudou em janeiro, quando Kim mostrou abertura para dialogar com a Coreia do Sul durante seu discurso de Ano Novo. O ditador norte-coreano anunciou que estava disposto a enviar uma delegação aos Jogos Olímpicos de Inverno, que seriam realizados em fevereiro em PyeongChang, no país vizinho.
Mas uma figura essencial neste processo é o presidente sul-coreano, que chegou ao poder em maio de 2016, disposto a conversar com a Coreia do Norte, revertendo a postura adotada por sua antecessora, Park Geun-hye, que foi presa por corrupção.
Jogos da Paz
A aproximação promovida por Moon, unida à disposição do Norte em dialogar e à suspensão dos testes de mísseis no fim de novembro, geraram frutos nos Jogos Olímpicos de Inverno, um evento repleto de gestos de grande valor simbólico para a reconciliação.
Durante os chamados “Jogos da Paz”, Norte e Sul desfilaram sob a bandeira unificada e competiram com uma equipe conjunta de hóquei no gelo. O evento também propiciou uma série de visitas de alto nível, que deixavam para trás, pelo menos temporariamente, as tensões.
A irmã e assessora do ditador norte-coreano, Kim Yo-jong, viajou para o Sul para assistir à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno. Foi a primeira vez que um membro da dinastia Kim pisava no país vizinho. A partir disso, os contatos aumentaram e resultaram em uma lista crescente de eventos diplomáticos inesperados.
Entre eles se destaca o convite de Kim a Moon para realizar a cúpula, a primeira entre os líderes das duas Coreias em 11 anos, assim como a oferta do ditador norte-coreano para se reunir com Trump, o primeiro encontro entre os líderes dos dois países.
Kim propôs os encontros com o compromisso de suspender os testes de armas e discutir um processo de desnuclearização do país, desde que receba garantias para a sobrevivência do regime.
Além disso, a Coreia do Norte anunciou o fim de seus testes com armas atômicas e se comprometeu a não utilizá-las a menos que seja alvo de “ameaças ou provocações” de outros países, um gesto muito significativo que ocorre antes das cúpulas.
Muitos especialistas consideram que a distensão só foi possível porque a Coreia do Norte afirma ter atingido o status de potência nuclear. Portanto, Kim se sente capacitado em negociar com Seul e Washington com as mesmas cartas sobre a mesa.
G1