Estabilidade econômica atrai investidores brasileiros para o Paraguai
Maior parte das empresas de capital brasileiro no país são indústrias de transformação de baixa qualificação, como a têxtil, de material elétrico e de autopeças
Os dez anos de estabilidade econômica no Paraguai levaram ao nascimento de uma terceira leva de brasileiros ao país quando o outro lado da fronteira passava pela pior crise em 80 anos.
Atraídos pelas leis trabalhistas mais leves e os impostos baixos ou isentos, os investidores desta onda dedicam-se à indústria, sucedendo aos comerciantes que se instalaram na fronteira nos anos 1990 e os agricultores chegados durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).
Eles, porém, têm de lidar com as limitações do segundo país mais pobre da América do Sul, como a baixa qualificação de seus profissionais e a infraestrutura colapsada após uma década de bonança, com crescimento médio de 5% anual, sem investimento no mesmo ritmo.
Os investidores brasileiros que mudaram suas operações se vêm atraídos principalmente por duas medidas aprovadas no fim da ditadura. A primeira é a lei 60/90, da isenção de impostos para a compra de maquinário e matéria-prima no exterior.
A outra é o regime de maquila, que assegura certificação de fabricação paraguaia a produtos que tenham ao menos 40% da composição de matérias-primas produzidas em qualquer país do Mercosul -parcela mais alta entre os membros do bloco.
É justamente por meio da segunda que se instala a maioria dos novos investidores brasileiros.
Segundo o Ministério de Indústria e Comércio paraguaio, dois terços dos US$ 166,4 milhões (R$ 568 milhões) de investimentos que entraram sob o regime de maquila em 2017 vieram de empresas brasileiras.
A Câmara de Comércio Paraguai-Brasil estima que 12,5 mil paraguaios estejam empregados em firmas deste tipo. Seu presidente, Ruben Jakcs, considera o sistema uma oportunidade para brasileiros diversificarem mercados.
“Sei que o Brasil tem muitos custos trabalhistas, tem muita burocracia, por isso que Paraguai pode ser um bom sócio para a internacionalização e plataforma para exportações.”
Por outro lado, considera um mito a ideia de que o país possa roubar empregos de brasileiros.
“Temos 120 ‘maquiladoras’ de brasileiros. Só durante a crise fecharam 5.000 indústrias em São Paulo. Não dá para competir com o Brasil.”
Pelo esquema de “maquila”, as empresas que ficam isentas de determinados impostos de importação desde que produzam no Paraguai e exportem produtos.
A maior parte das empresas de capital brasileiro no Paraguai são indústrias de transformação de baixa qualificação, como a têxtil, de material elétrico e de autopeças.
Nos últimos dois setores, houve aumento de importação pelo Brasil mesmo em 2015 e 2016, auge da crise financeira.
O volume de produtos do setor enviados do Paraguai saiu de US$ 96 milhões (R$ 328 milhões) em 2014 para US$ 197 milhões (R$ 672 milhões) em 2017, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento.
O setor com a maior participação continua a ser o agropecuário, principal motor da economia paraguaia.
A Câmara de Comércio calcula que ao menos 60% da produção de carne no país esteja nas mãos de brasileiros, liderados pelos frigoríficos JBS e Minerva.
O ciclo virtuoso paraguaio foi iniciado após as reformas impulsionadas pelo presidente colorado Nicanor Duarte em 2003 depois que o país entrou em calote parcial.
Os impostos foram reduzidos e criou-se um fundo para infraestrutura com os dividendos das usinas de Itaipu e Yacyretá.
A economia explodiu, mas o investimento não veio no mesmo ritmo. Assim como ocorreu no Brasil no boom da soja, as estradas estreitas complicam o escoamento da produção.
Com o aumento do fluxo de veículos de carga e de passageiros, o governo paraguaio proibiu os chamados caminhões bitrem. Também cresceu o número de apagões nas cidades e no campo.
Embora o governo do colorado Horacio Cartes tenha iniciado um plano de reformas, elas ainda não tiveram seus resultados.
Seu candidato presidencial, Mario Abdo Benítez, defende a continuidade do projeto e não promete grandes mudanças.
Já o opositor Efraín Alegre põe ênfase na recuperação da energia para alimentar a indústria paraguaia, em vez de vendê-la a Brasil e Argentina.
Em seu escritório em Assunção, o consultor Andrés Bogarín exibe os produtos criados por brasileiros que produzem no Paraguai.
Ele, porém, afirma que é um processo de dois anos para partir para a criação das empresas.
Para Bogarín, o tempo é necessário para desmistificar alguns mitos. “O brasileiro padrão chega aqui e acha que é Disneylândia, mas aqui é o Paraguai.”
Um deles é o uso de métodos ilegais.
“O país está tendo cada vez mais formalização, cada vez mais controles. Se você é conhecido no ambiente comercial como um picareta, você vai se queimar.”
PRESIDENCIÁVEL
Em sua segunda corrida presidencial no Paraguai, o ex-deputado liberal Efraín Alegre coloca a mudança na tarifa de energia como seu principal diferencial para tentar vencer o colorado Mario Abdo Benítez, candidato do presidente Horacio Cartes.
À reportagem nesta quinta-feira (19), último dia de campanha no país, o opositor disse que a intenção é reforçar a infraestrutura para ter maior poder de barganha com Brasil e Argentina em relação às produções das usinas hidrelétricas de Itaipu e Yacyretá.
“Temos de ser capazes de usar nossa energia, porque se não concordamos com os dois, trazemos a energia e usamos nós”, disse.
Apesar do tom bélico em relação aos vizinhos maiores, ele defende a cooperação como a única forma de combater o tráfico de drogas, o contrabando e o crime organizado na fronteira.
Alegre também critica o atual presidente, dono da maior indústria de tabaco paraguaia. “Em relação ao tráfico de drogas e ao contrabando de cigarros, é preciso vontade política, um presidente que não esteja comprometido com essas questões e esses negócios.”
Segundo ele, é preciso investir e redesenhar as forças de segurança. “Nossas Forças Armadas não têm capacidade operacional. E precisamos chegar a acordos com o Brasil e a Argentina para controlar a fronteira e para dividir o investimento para a segurança que precisamos todos nós.” Com informações da Folhapress.