Cabral indicou fornecedor para Rio-16 em troca de propina, diz delator

Depoimento do economista vai ao encontro da tese defendida pela Procuradoria

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Apontado como “gerente da propina” de Sérgio Cabral (MDB), o economista Carlos Miranda afirmou em depoimento ao MPF (Ministério Público Federal) que o ex-governador indicou um fornecedor ao comitê organizador da Rio-2016 para manter o recebimento de vantagens indevidas mesmo após sair do governo.

Miranda firmou acordo de delação premiada com a Procuradoria. Ele disse que Cabral lhe contou ter indicado as empresas de Marco Antônio de Luca para trabalhar junto com o comitê Rio-2016.

“Cabral confidenciou ao colaborador que, como [Marco] de Luca continuou a pagar propina mesmo após o fim de seu mandato, uma das formas que encontrou para ajudar de Luca foi indicá-lo para prestar serviços para o comitê olímpico da Rio-16”, afirma a transcrição do depoimento de Miranda ao MPF.

O depoimento do economista vai ao encontro da tese defendida pela Procuradoria segunda a qual a Olimpíada foi uma forma de ampliar os ganhos da organização criminosa liderada pelo emedebista. É primeira vez que um colaborador confirma a atuação do ex-governador junto ao comitê organizador dos Jogos.

A suposta interferência de Cabral no comitê Rio-16 está vinculada, na avaliação de procuradores, à compra de votos de membro do COI para a escolha da cidade como sede dos Jogos de 2016. É o que eles classificaram de “ganha-ganha” na acusação contra o político e o ex-presidente da Rio-16, Carlos Arthur Nuzman.

As empresas vinculadas ao grupo Masan, de Luca, firmaram nove contratos com o Rio-16 que somam R$ 106 milhões.Anotações apreendidas na casa de Luiz Carlos Bezerra, responsável por recolher dinheiro a pedido de Cabral, indicam que o ex-governador recebeu R$ 16 milhões do empresário. A maior parte delas se referem a entregas feitas após abril de 2014, quando o político renunciou ao seu mandato.

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Em resposta à acusação na ação penal, a defesa de Nuzman afirma que todos os contratos da Masan foram aprovados pelo conselho diretor da entidade formado por seis pessoas, ele incluído.A defesa do cartola também cita nominalmente o ex-diretor-geral da entidade, Sidney Levy, bem como “seus diretores executivos” como os responsáveis pelo processo de seleção de fornecedores que seriam avaliados pelo conselho diretor.

Levy prestou depoimento ao MPF logo após a deflagração da Operação Unfair Play, que prendeu Nuzman. Ele declarou que a Masan aparecia em muitas licitações e que havia como critério para contratação preço e capacidade técnica.O contrato mais valioso firmado com a Masan teve como objeto a “prestação de serviços de alimentação para as instalações do Parque Olímpico”, de R$ 54,7 milhões.

Foi o grupo de Luca que foi chamado às pressas para as intervenções emergenciais na Vila dos Atletas antes dos Jogos, que apresentou problemas após a chegada dos hóspedes. A empresa firmou contrato de R$ 2,7 milhões para fornecer mão de obra para limpeza e manutenção dos prédios.OUTRO LADOAs defesas de Cabral e de Luca não se pronunciaram até a publicação desta matéria. O comitê Rio-16 não foi localizado para comentar.

Em junho do ano passado, quando os contratos foram questionados pela primeira vez, o então diretor de Comunicação da Rio-2016, Mario Andrada, declarou que não havia chance de interferência de Cabral na entidade.”Não há a mínima chance de Cabral ter influência no conselho. E ainda devemos à Masan. Se houvesse algum apadrinhamento, ela teria recebido”, afirmou Andrada à época.

Ele disse ainda que a contratação emergencial da empresa de Luca para atuar na Vila dos Atletas ocorreu porque ela era a única capaz de fornecer mão de obra na quantidade e velocidade exigida para solucionar os problemas. Esta contratação também foi submetida ao conselho.

A Masan negou, também em junho, que o ex-governador tenha interferido de alguma forma na celebração do contrato com o comitê organizador.

“Não houve favorecimento para a Masan participar dos Jogos. A empresa passou por rigorosos processos, na modalidade técnica e preço, concorrendo com empresas nacionais e internacionais. Vale ressaltar que ainda temos a receber R$ 20 milhões do comitê, valor que está sendo cobrado judicialmente”, afirma em nota a diretora-geral da empresa, Adriana Pinto.

Ela disse ainda que Luca não faz parte do quadro societário da empresa desde agosto de 2015. (Folhapress)

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