Mercado começa a se proteger de julgamento de Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante comício no Circo Voador, no Rio de Janeiro, em 2 de abril de 2018 – AFP
No final da tarde desta quarta-feira, 4, o Brasil ficará sabendo, finalmente, se o Supremo Tribunal Federal (STF) concederá ou não o Habeas Corpus (HC) preventivo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão, esperada há duas semanas, pode evitar que Lula seja preso após ser condenado em segunda instância. Mais do que isso, pode permitir que outros réus, já condenados, e presos, saiam da cadeia devido a uma nova jurisprudência. E, se há alguma entidade que não quer que isso aconteça, é o mercado financeiro.
Desde que o STF suspendeu o julgamento desse Habeas Corpus, em 22 de março, o mercado financeiro trabalha em compasso de espera. Naquele dia, o Ibovespa, principal indicador da bolsa de valores de São Paulo, a B3, fechou o dia a 84.449 pontos. Nesta terça-feira, 3, o Ibovespa fechou em 84.467 pontos. No jargão dos analistas, o mercado “andou de lado”.
Com a aproximação da data de julgamento, o mercado volta a tentar se proteger de uma possível surpresa. O voto de minerva deve ser o da ministra Rosa Weber, que pode pender a balança para a concessão ou não do HC. Já é mais do que previsto que os votos dos outros 10 ministros terminarão empatados em 5 a 5.
Dessa forma, mesmo que o julgamento se estenda até após o fechamento do mercado, às 17h, será possível prever qual o resultado final antes disso. O julgamento começa às 14h, com os atrasos habituais do STF. E Rosa Weber será a terceira a votar, como de praxe.
O mercado, no entanto, não pode esperar para agir. Precisa se proteger ou aumentar a aposta para ganhar mais. A lógica é simples. Caso o STF rejeite o pedido de Habeas Corpus, os índices do mercado finceiro sobem. Caso aceite, o mercado deve cair. “O mercado entende que se houver essa reversão no entendimento do STF após prisão em segunda instância, isso vai enfraquecer a Lava Jato e também o combate à corrupção”, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho. “Isso traz uma cautela. O que favorece essa desvalorização do Real, aumento a pressão sobre a curva de juros, e força para baixo o Ibovespa”, afirma.
Esse movimento é o que fez com que, nesta terça, o Ibovespa caísse 0,23%, o dólar subisse 0,72%, a R$ 3,34, apesar da valorização das bolsas americanas. Lá fora, o índice Dow Jones, o principal do mercado dos Estados Unidos, subia 1,58% às 17h, e a Nasdaq 1,03%. É comum, quando não há notícias impactantes no mercado brasileiro, que a bolsa paulista siga as tendências dos índices americanos.
Alguns movimentos de proteção puderam ser notados nos últimos pregões. Um deles, o mais comum quando envolvem decisões políticas, é a movimentação de opções da Petrobras. Por exemplo, a opção de venda, as chamadas Puts, tendem a valorizar quando o mercado passa a apostar na queda da cotação da estatal. Dessa forma, o papel PETRP21, dobrou de valor nos últimos dois pregões, saindo de R$ 0,35 para R$ 0,69 por papel.
Outro movimento está no mercado futuro de juros. Toda vez que o mercado prevê uma piora para a dinâmica econômica do País, os juros futuros tendem a subir. Nos mesmos últimos dois dias, o contrato futuro de Depósito Interbancário (DI) com validade para janeiro de 2021, que prevê o movimento da taxa básica de juros (Selic) para quase daqui três anos, subiu de 7,98% ao ano para 8,08% ao ano.
“Minha impressão é que o mercado está preocupado com o que fazer”, afirma José Márcio Camargo, economista da Opus Consultoria. “Isso pode gerar uma volatilidade negativa. Se o investidor não se proteger hoje, não conseguirá fazer amanhã. Mas, por outro lado, se o resultado for positivo, ele perde o investimento que fez prevendo uma queda. É uma aposta”, conclui.
Por> ISTOÉ
Machado da Costa