Marcos Valério faz acordo de delação e mira fraudes no governo de Aécio
Colaboração foi firmada com a Polícia Civil de Minas Gerais e revela escândalos de corrupção em empresas estatais e licitações, como a da Cidade Administrativa, durante a administração tucana
A Polícia Civil de Minas Gerais anunciou um acordo de delação premiada com o publicitário Marcos Valério, operador do mensalão petista e do mensalão tucano, esquema de desvio de dinheiro para fracassada reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas em 1998.
Em julho, Valério já havia assinado um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal. A delação ainda aguarda homologação no STF (Supremo Tribunal Federal), que precisa julgar antes se a PF pode celebrar esse tipo de acordo.
Marcos Valério cumpre pena de 37 anos e cinco meses de prisão por participação no mensalão do PT.
O delegado-geral Rodrigo Bossi, do Departamento Estadual de Investigação de Fraudes, chegou a convocar uma entrevista coletiva para tratar do novo acordo, mas suspendeu em seguida.
Segundo a Polícia Civil, a delação não trata de matérias de interesse da União ou de pessoas com prerrogativa de foro, o que seriam atribuições da PF, mas revela escândalos de corrupção em empresas estatais e licitações, como a da Cidade Administrativa, construída no governo Aécio Neves (PSDB).
A Polícia Civil acompanhou os depoimentos de Valério à Polícia Federal e já havia retomado investigações sobre fatos narrados pelo publicitário com base em documentos apresentados pelo lobista Nilton Monteiro, cuja autenticidade é questionada em perícias.
No entanto, a investigação, segundo a Polícia Civil, apontou indícios de veracidade na declaração do lobista de que uma organização agiu em Minas Gerais para acobertar acusações de corrupção ligadas ao mensalão tucano.
Em documento enviado à Justiça no mês passado, Bossi afirma: “a referida organização […] teria praticado, justamente, o extravio de autos processuais e inquéritos policiais, de peças processuais, além de falsas perícias, documentos e depoimentos”.
Antes de fechar o acordo de delação com a Polícia Federal e a Polícia Civil, Valério teve as tratativas rejeitadas pelo Ministério Público.
O advogado Fáber Campos, que conduz a colaboração com a PF, não participou do novo acordo com a Polícia Civil, levado a cabo pelo advogado Jean Kobayashi Júnior. Além de ampliar a divisão na defesa do publicitário, a delação desagradou à PF.
Em nota, o PSDB afirmou que protocolou uma petição no Ministério Público de Minas Gerais para que sejam investigadas as notícias de que Valério teria negociado delação com a Polícia Civil.De acordo com a nota, caso se confirme a delação, ficará provado que Valério está mentindo e deveria perder eventuais benefícios acordados.
“O partido alega que Valério está associado ao governo do PT para perseguir adversários políticos, e lembra que a proposta de delação premiada de Valério foi recusada pela PGR [Procuradoria-Geral da República] e pelo MPMG [Ministério Público de Minas Gerais] pela falta de credibilidade das informações e do próprio delator”, afirma o texto. Com informações da Folhapress.