São Paulo desenvolve sistema para mapear doadores de sangue raros
Objetivo do projeto é criar um ‘banco raro’ para suprir pacientes que são incompatíveis com as bolsas convencionais
Doar sangue é um ato simples, rápido e seguro que pode salvar até quatro vidas. O primeiro passo é comparecer a um posto de coleta e, preenchendo todos os requisitos, é retirado uma bolsa equivalente a 450mL.
Em seguida, é feita a separação dos hemocomponentes, os exames de tipagens sanguíneas e a verificação de possíveis doenças. É após esse trabalho que as bolsas, não contendo nenhuma irregularidade, são encaminhadas aos hospitais.
O processo de transfusão, no entanto, é muito mais minucioso do que imaginamos. Nem todos os pacientes podem receber as bolsas convencionais de sangue. Em outras palavras, há pessoas que não se enquadram no esquema – popularmente conhecido – ABO. Isso significa, por exemplo, que nem sempre o A positivo pode doar para outro A positivo ou AB positivo. São raros, mas existem sangues que desenvolvem anticorpos contra outros tipos de sangue.
O processo de reconhecimento dessa característica ainda é bastante complexa, pois está presente em apenas 0,01% da população. Os kits convencionais para a detecção desses antígenos são caros, trabalhosos e nem sempre eficientes. Sendo assim, pacientes que necessitam de transfusão e possuem fenótipos raros têm que receber uma bolsa compatível com a sua característica sanguínea.
Pensando nisso, o Instituto de Medicina Tropical da Universidade (IMT) de São Paulo, em parceria com a Fundação Pró-Sangue e o Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Instituto do Coração do HC-FMUSP, buscou padronizar uma estratégia molecular totalmente automatizada e economicamente vantajosa para procurar doadores raros.
O estudo, que começou em 2014, usou como base a constituição genética de um grande número de doadores de repetição. As informações foram armazenadas em um software, criado especialmente para o projeto, com a finalidade de realizar uma rápida busca de quem são as pessoas com tipos raros. No total, foram feitas 5,4 mil amostras no posto de coleta da Pró-Sangue do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. A análise de cada uma foi feita no IMT.
“É um importante passo para ciência. Com esse trabalho nós conseguimos montar um ‘banco raro’ para quando houver necessidade, acionar esses doadores e convidá-los a doar”, explica a diretora do IMT, Ester Sabino
Houve consentimento dos voluntários que participaram da pesquisa e, desse total, foram detectados 60 tipos de sangues infrequentes. Assim, com a ideia de alimentar o banco, esses doadores receberam um cartão indicando que são portadores de fenótipos raros e foram informados que a qualquer momento podem ser contatos para doar.
A médica da Pró-Sangue e colaboradora do projeto, Carla Dinardo, comenta que, apesar do avanço, ainda é necessário completar o painel de raridade. “A ideia é continuar procurando outros doadores, continuar fazendo a busca. O importante é que já deixamos um legado para o SUS com a genotipagem dessas pessoas e com a descoberta de 60 raridades”, completou.
Os resultados renderam aos pesquisadores a terceira colocação na 16º edição do Prêmio de Incentivo em Ciência, Tecnologia e Inovação para o SUS, que premia projetos imprescindíveis para o desenvolvimento das políticas públicas de saúde no Brasil.
Por enquanto, o serviço foi acionado 3 vezes e só está disponível no posto de coleta da Pró-Sangue do HC. Entretanto, de acordo com Carla, o projeto transcende a instituição, pois existe uma sintonia entre todos os hemocentros do Brasil: “Nós vamos oferecer as bolsas no momento em que detectarem um paciente raro em qualquer região do país”. Com informações do Portal do Governo de São Paulo.
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