Antidepressivos funcionam, mas não é por efeito placebo, diz estudo

Foto: Matt Detrich/AP

Prozac, cujo princípio ativo é a fluoxetina, droga antidepressiva
 Volta e meia a eficácia dos antidepressivos é questionada. Seria a explicação para o funcionamento dessas drogas o famigerado efeito placebo, ou seja, elas não passariam de um mero embuste farmacológico?

A melhor evidência disponível até o momento diz que, na verdade, a resposta é não –antidepressivos funcionam, e são superiores ao placebo.

Há motivos fortes para se engajar nesse debate. Além do impacto que a depressão traz para a qualidade de vida das pessoas atingidas, há também um grande impacto econômico da doença, responsável por mais de um quinto do que se gasta ou perde (pela falta de produção no trabalho) anualmente com doenças em todo o mundo. São mais de 350 milhões de pessoas afetadas (número superior à população dos EUA), que custam direta ou indiretamente US$ 210 bilhões (R$ 685 bilhões) ao ano.

Se o placebo equivalesse aos antidepressivos em termos de eficácia, dezenas de bilhões de dólares poderiam ser economizados. Para o bem ou para o mal, não parece ser o caso.

Um estudo publicado nesta quarta (22) na prestigiosa revista médica “The Lancet” considerou dados de mais de 100 mil pacientes, de 522 outros estudos, para chegar à conclusão de que antidepressivos, sim, são eficazes.

Em todos esses estudos, os pacientes foram distribuídos aleatoriamente entre os grupos tratados com a droga em questão ou com placebo. Os pesquisadores não sabiam quem fazia parte de qual grupo até o final da pesquisa, o que reduz a chance de erros decorrentes do viés de observação (ou da torcida do cientista).

Resultado: a chance de uma pessoa melhorar com um antidepressivo é de 37% a 113% maior do que com um placebo.

Ter dados de tantos pacientes é fundamental, já que, no curto espaço de tempo estabelecido –apenas oito semanas–, os efeitos dos remédios tendem a ser discretos. O tratamento foi tido como bem-sucedido nos pacientes cujo escore relacionado à gravidade da depressão, calculado por um profissional de saúde, fosse reduzido em mais da metade.

Sabe-se que há mais de 40 antidepressivos no mercado, mas, para essa meta-análise, foram considerados os estudos de 21 drogas para as quais havia boa qualidade de evidência na literatura médica. Valiam tanto as comparações entre antidepressivo e placebo quanto aquelas entre dois medicamentos.

Curiosamente, sabe-se ainda muito pouco sobre o funcionamento de antidepressivos –o que acaba sendo um gargalo para o desenvolvimento de possíveis novas drogas.

TRATAMENTOS

Segundo a principal autora do estudo do “Lancet”, Andrea Cipriani, da Universidade de Oxford, os achados são relevantes para adultos que estão passando pelo primeiro ou segundo episódio de depressão. Para os demais casos, a escolha pelo medicamento não é tão simples e depende de outros fatores.

Ela afirma que antidepressivos podem ser uma ferramenta efetiva para tratar a depressão grave, mas isso não necessariamente significa que as drogas devam ser sempre a primeira linha de tratamento –a medicação deve ser avaliada junto a outras práticas, como terapias psicológicas, se disponíveis.

A pesquisadora afirma ainda que o paciente deve estar a par dos potenciais benefícios e riscos dos antidepressivos e sempre conversar com seu médico sobre qual seria o melhor tratamento para seu caso.

Algumas das drogas analisadas na meta-análise se destacaram, seja positiva ou negativamente.

Considerando eficácia e a taxa de desistência do tratamento (por causa de efeitos colaterais severos, por exemplo), agomelatina, escitalopram e vortioxetina concorrem ao posto de queridinhas dos psiquiatras.

Já as drogas fluvoxamina, reboxetina e trazodona podem ter maior chance de se acumularem nas prateleiras das farmácias.

O novo estudo, apesar de sua abrangência, é incompleto. Além de vários antidepressivos terem ficado de fora, por falta de evidência disponível, foram levados em conta somente estudos publicados até janeiro de 2016.

Mesmo assim, segundo Sagar Parikh, da Universidade de Michigan, que comentou o estudo para o “Lancet”, essa pesquisa funciona como um guia em meio a um intenso emaranhado de mais de 2.000 meta-análises que medem e comparam a eficácia desses medicamentos.

Cipriani e colaboradores elaboraram, inclusive, um tabelão em que há comparação duas a duas das 21 drogas avaliadas –prato cheio para hipocondríacos e para profissionais de saúde terem mais sucesso na escolha do melhor caminho terapêutico a ser percorrido.

OUTROS FATORES DE RISCO

  • Comportamento: Ser uma pessoa pessimista, autocrítica em excesso e com baixa autoestima
  • Trauma: Passar por um evento traumático, como abuso, morte de entes queridos, problemas financeiros
  • Família: Histórico familiar de depressão, alcoolismo, transtorno bipolar ou suicídio
  • Doenças crônicas: Ter Câncer, AVC, dores crônicas, doenças cardíacas
  • Medicamentos: Tomar alguns medicamentos para dormir e para controlar a hipertensão

SINTOMAS

  • Sensação de tristeza, vontade de chorar, de vazio
  • Raiva repentina, irritabilidade, frustração por motivos pequenos
  • Perda da sensação de prazer em atividades como sexo e na prática esportiva
  • Insônia ou sonolência excessiva
  • Ansiedade, agitação
  • Pensamento, fala e movimentos corporais lentos
  • Pensamentos recorrentes sobre morte, tentativas e id eação de suicídio
  • Dores de cabeça corporais e outros problemas físicos sem explicação

TRATAMENTO

Os tratamentos medicamentosos para depressão são bastante numerosos. Para escolher melhor deles paciente e médico devem levar em conta:

  • Particularidades: Dependo dos sintomas, como dificuldade para dormir, pode haver mudança da indicação do antidepressivo
  • Efeitos colaterais: Alguns antidepressivos podem causar ganho de peso, boca seca ou perda de libido, por exemplo, dependendo do caso
  • Interação: Há possibilidade de interação com medicamentos que o paciente já toma, tanto potencializando efeitos colaterais quanto anulando o efeito do medicamento
  • Outras doenças: Alguns remédios podem ser prejudiciais caso haja outras doenças mentais, ou mesmo tratá-las concomitantemente, a depender do caso
  • Teste genético: Atualmente há testes genéticos que podem predizer em alguma medida o sucesso do tratamento com algumas classes de antidepressivos
Folha de São Paulo

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