Nova lei pode beneficiar Google e Facebook nas eleições 2018

Políticos vão poder pagar para essas empresas para que suas publicações sejam exibidas para um maior número de pessoas

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No segundo semestre do ano passado, o Congresso Nacional aprovou a reforma política que, dentre outras coisas, passou a permitir que nas eleições de 2018 os candidatos possam impulsionar conteúdo em plataformas como o Facebook, Twitter e em mecanismos de busca.

Isso significa que agora os políticos que estejam disputando cargos no Legislativo e no Executivo vão poder pagar para essas empresas para que suas publicações sejam exibidas para um maior número de pessoas ou sejam direcionadas a um grupo específico a partir de microdados coletados por essas plataformas e por outras empresas contratadas.

Por se tratar de algo inédito, a Sputnik Brasil conversou com alguns especialistas em debates políticos em redes sociais e um empresário do setor para tentar entender melhor o impacto que algumas mudanças recentes nas leis eleitorais podem causar no pleito deste ano.

Para o sociólogo Sérgio Amadeu, professor da UFABC e conselheiro do Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br), a lei foi elaborada de uma forma para beneficiar diretamente o Facebook.

“A lei usa a palavra impulsionamento de conteúdo que é uma palavra que típica do Facebook. Nem o Twitter usa impulsionamento, só que para captar esse dinheiro agora todas as empresas que desejem ter propaganda paga nas eleições vão ter que usar o termo impulsionamento de conteúdo, mas obviamente você usou e privilegiou o Facebook”, afirmou ele à Sputnik Brasil.

Sérgio Amadeu ainda acha mais grave a permissão de impulsionar conteúdo em sistemas de busca na internet, como o Google.

“Comprar conteúdo e hierarquia de busca no caso de uma disputa eleitoral deveria ser considerado crime eleitoral. Porque na hierarquia de busca eu coloco o que foi comprado nos dez primeiros links e o candidato que já foi várias vezes denunciado por corrupção, por exemplo,elimina as informações sobre ele próprio se tiver feito o patrocínio. Ou seja, você limpou a ficha dele”, falou fazendo uma brincadeira com a Lei da Ficha Limpa.

O cientista político e professor da USP, Pablo Ortellado, que coordena o “Monitor do Debate Político no Meio Digital”, um projeto que busca mensurar e analisar o comportamento do internauta brasileiro através de levantamentos das notícias mais compartilhadas nas redes sociais, acredita que neste ano o que vai determinar os rumos que o debate político na internet serão as páginas que apoiam determinados candidatos, mas não são oficialmente ligadas a nenhum.

“Esses sites ou páginas não podem fazer campanhas diretas, mas eles podem atacar adversários e promover ideias que estão associadas aos candidatos que eles estão defendendo”, disse à Sputnik Brasil.

O marqueteiro André Torretta, que trabalhou em campanhas políticas nos últimos 15 anos e agora é o representante brasileiro da Cambridge Analítica, empresa que fez a propaganda eleitoral de Donald Trump e que há um ano está no Brasil, acredita que os políticos que mais se beneficiarão com essa mudança serão os candidatos a cargos menores, como deputados estaduais e federais.

“Eles nunca puderam fazer uma campanha eletrônica na vida deles, você tinha antes uma campanha sem ser eletrônica, o candidato mal podia falar 10 segundos na televisão”, disse.

Torretta crê que ao permitir que os candidatos patrocinem conteúdo de acordo com os dados coletados pelas plataformas, os candidatos vão ter a chance de fazer “várias conversas”.

“As agências de propaganda e marqueteiros tradicionais fazem o que a gente chama de uma conversa nacional. A gente acha que isso não é relevante, antes você falava a mesma coisa para a população de Salvador e para a população de Porto Alegre, por exemplo. O que a gente vai fazer é dividir essas conversas, então para São Paulo é uma conversa, para Cuiabá é outra conversa, então você vai criando conteúdos diferentes e linguagens diferentes de acordo com o seu público”, explicou à Sputnik Brasil.

Essas “diferentes conversas” são feitas a partir de dados coletados pela Cambridge como perfis em redes sociais, GPS e até rastros deixados em compras online. A partir daí, a empresa consegue traçar o comportamento dos eleitores e produzir mensagens que atendam às necessidades daquela pessoa.

Torretta disse que sua empresa já foi procurada por vários candidatos, mas não quis revelar nenhum nome.

“Por enquanto estamos na fase das conversas, nada ainda está definido”, disse.

Combate às Fake News com ajuda do Facebook

Outra medida inédita anunciada para as eleições deste ano foi a parceria entre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e as empresas Facebook, Whatsapp e Twitter para auxiliar no combate as chamadas “fake news”.

Sérgio Amadeu se mostrou preocupado com esse projeto e disse que é complicado dar algum tipo de controle das eleições do Brasil para empresas estrangeiras.

“Primeiro, elas não tem autoridade para fazer essa distinção, elas são empresas estrangeiras com filiais no Brasil. A Justiça Eleitoral entregar para empresas estrangeiras qualquer tipo de controle sobre a disputa democrática no Brasil é um absurdo. Tanto o controle policial quanto o do algoritmo é descabido na democracia. Isso tem que ser feito pela sociedade civil, pela imprensa e pelos envolvidos no debate”, defendeu.

Pablo Ortellado ponderou dizendo que a definição do que é noticia falsa é algo complicado e que tanto o Facebook quanto o Twitter têm dado indicativas que não pretendem fazer esse controle nas eleições deste ano.

“É difícil você traçar a partir da onde a notícia é falsa e a partir da onde ela seria legítima. Você não sabe o que é um erro de apuração e o que é um erro malicioso pra corromper o sentido da informação. Isso é um terreno minado e o Facebook e Twitter já deram todas as indicativas de que não pretendem fazer essa distinção”, explicou.

Em 2014, ano das últimas eleições presidenciais, o IBGE apontou que 32,3 milhões de domicílios tinham acesso a internet, pela primeira vez 50% do total das casas brasileiras estavam conectadas. No ano passado, o mesmo levantamento mostrou que em 2016 a internet já estava presente em 63,6% dos lares e em 94,8% deles havia celulares sendo usados para se conectar à rede. Neste ano o número deve ser ainda maior.

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